De manhã manhãzinha
Ouve-se a “ cabra” a tocar:
Salta da tua caminha
Vai-te depressa lavar ...
A malta endiabrada
Depressa se põe a pé,
E muito bem penteada
Lá vai tomar o café .
Mudamos de edifício,
Temos a ‘strada a transpôr,
E cheios de artifícios
P’ra levar o professor ...
Uma tosse costumada,
Duas lentes a brilhar,
Eis a malta perfilada:
Vai o “ Papá” a passar ...
A ginástica é de estafar,
No mapa até “ ele” sua;
É de um tipo arrebentar
P’ra contentar o “ charrua” ...
Vamos p’ra Filosofia
Temos o caldo entornado;
Anda tudo em agonia
Por causa do “ Floriado” ...
Nas Matemáticas e nas Fisicas
É o “ Meiguinho”e o “Taludo”,
E nas Ciências Biológicas
Temos o nosso “ Pançudo” ...
P’rás linguas complicadas,
É dificil o caminho:
Há o “ Chico” às pedaladas
E um “ Negro” que é branquinho ...
Já são horas de almoçar,
Que grande satisfação!...
Toca depressa a formar
Vamos comer o feijão .
A paparoca acabada
É de ver qual corre mais ...
S’há carta da namorada
Ou uma cartinha dos Pais ...
Já se acabou o recreio,
Põe-te depressa a andar,
Já acabou o passeio,
P’rás aulas, ‘stá a tocar !
Faz se barulho sem querer,
Cautela, pois há sarilho;
Cá em baixo, o “ Ranvier”,
Lá em cima o “ Vira-Milho”..
Olha a pequena a passar,
Lá vai o pequeno à espreita ...
Mas vai logo interceptar
A simpática Prefeita ...
E para o latim danado
É preciso muito zelo,
Pois é à malta ensinado
Por um que não tem cabelo ...
Um automóvel de gritos
Vem a acabar de chegar ...
E eis os moços aflitos;
O chumbo vai começar ! ...
Na turma da pequenada
Cheira a “ Bacalhau” assado ...
Numa mais adiantada
À “Romeu” motorizado ...
A malta está afanada ...
Apetece descansar ...
Agor, é a espingarda,
E vamos, toca a marchar ! ...
E, depois da instrução,
Que deve estar a acabar,
Vem tudo em turbilhão,
Lá vem a malta lanchar ...
Lá se vai a alegria
Num grito de arripiar;
E a malta já nem pia
Pois tocou a estudar ...
Lidar com a Prefeitura
É preciso muito jeito;
Num, falta-lhe altura,
O outro, nao é “ Perfeito” ...
Durante a hora do estudo
Tem de haver atenção,
O Prefeito é carrancudo,
Castiga sem coração ...
Que alívio ao se ouvir
A ordem deste acabar ! ...
E agora é só subir,
Vamos lá, então, jantar !
Depois duma passeata
Vamos de novo estudar,
Para depois, na camarata,
O descanso começar !
Já soou a badalada,
Ninguém mais pode falar ...
Adeus, ó “ Cabra” malvada,
‘Té às seis do levantar ! ...
De Carlos da Silva Neves
Aluno nº 99 do 7º Ano de Ciências
4 comentários:
Natércia, um tesouro de poema. Descreve em beleza o nosso dia no IVS e as pessoas que o enformam.
Outro namorico? Vamos, menina, abre-te connosco!
Claro que não havia namorico.
Também é do jornal de 1953. Agradeço ao Galinha que me enviou a fotocópia toda há uns anos.
E eu a fazer-me para ler um romance... Não acerto uma!
Fantástico .Lindo . Este poema relata ,na perfeição , o nosso dia a dia no IVS .
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