sábado, 31 de outubro de 2009

Apelo a um convívio dos antigos alunos de IVS 1985-1987

Da Isabel Franco, uma antiga aluna do IVS dos anos 80, actualmente a residir na República Democrática do Congo, via hi5 recebemos a seguinte mensagem - fonte http://www.hi5.com/friend/mail/displayReadMail.do?messageId=2567708059&senderId=343380875&currentStatus=0 - que decido publicar no blogue. Seria óptimo que começassem a aparecer por aqui as novas gerações de alunos.
Isabel
To:INSTITUTO VAZ SERRA
Subject:PARA OS ALUNOS
Date:Oct 30 11:43 PM

AOS ALUNOS QUE ESTUDARAM NO IVS :NOS ANOS ENTRE 1985 E 1987 GOSTARIA DE OS VER POR AQUI . TALVEZ DESSE PARA MARCAR-MOS UM ALMOÇO DE CONVIVIO , SERA QUE A AI ALGUEM QUE FAÇA ISTO ADORARIA REVER OS MEUS ANTIGOS COLEGAS E AMIGOS . PENSEM NISSO . MAS NAO QUER DIZER QUE TAMBEM NAO SE PENSE NUM CONVIVIO DE ANTIGOS ALUNOS DO IVS . GRANDE INSTITUTO VAZ SERRA OBRIGADO BEIJINHOS PARA TODOS

Cara Isabel,
Bem-vinda ao teu blogue. É com muita alegria que aqui te recebemos. O blogue é de facto para todas as gerações de antigos alunos. Por razões que não são muito claras, a maioria dos actuais participantes pertencem a gerações mais longínquas. São também as gerações que têm ao longo dos anos realizado mais convívios.
Fica aqui o convite para começares a participar e divulgar o blogue entre os contactos que porventura tens.
Sérgio (IVS nº 192)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Postal ilustrado

Por estas serras andaram os Romanos. É onde eu moro. Parece impossível, mas é mesmo onde eu moro. Ao fundo da estrada que não se vê aqui é Conímbriga.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

É tão bom ser capelista!

Capelistas há-os espalhados por toda a Lisboa, por todo o país e até pelo Brasil. São pequenas lojas que vendem linhas, agulhas, botões, santinhos, catecismos, imagens de santos e sei lá que quinquilharias para decorar a casa. Quanto à origem do nome isso já faz parte da história de Lisboa. Temos de voltar à capela do Paço da Ribeira, a que teve honras de Patriarcal a partir de 1716. Tinha essa capela, desde os tempos em que D. Manuel a mandara construir, arcadas à volta onde se foram instalando comerciantes que vendiam variadíssimas mercadorias, quase todas de alta qualidade. Cristóvão Rodrigues de Oliveira escrevia no Sumário, obra de 1551, "Merceeiros que estão em Capela".O tempo foi-lhes dando estatuto e prestígio. No Anatómico Jocoso, publicação satírica em três volumes, editada entre 1753 e 1758, escreve-se em conselho às damas elegantes: "Por nenhum modo falte em ir de vez em quando à Rua Nova e à Capela e correr todas as lojas (ainda que nada compre); mas no tempo principal que é nas Endoenças (Páscoa) vá em todo o caso à Capela refazer-se de fitas, leques, sinais. Faça sempre alguma peça nova e que seja a seda da loja do Manuel da Fonseca e diga que se não acha lá mais do que aquele corte de uma peça que foi para o paço; e não deixe de dizer isto às amigas com quem se visitar." Com o terramoto de 1755 a Capela e os capelistas desapareceram, mas na reconstrução da cidade tiveram honras de uma rua, a Nova de El-Rei, mas que o povo chamou dos Capelistas e que desde 1910 se chama do Comércio.

Jornalista

Publicado no jornal i em 28 de Outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A moda do “ Grafanhoto “

Há pouco tempo estive lá. Subi devagar a calçada até à capela da Senhora do Livramento, na Portela.

A calçada pouco íngreme de pedra rolada da ribeira trouxe-me à memória a taberna do Xico Sapateiro.Pelo caminho fui encontrando as casas, hoje vazias e a cair, dos moradores de outros tempos, não muito longínquos.

A casa da D. Alzira, do Sr Benjamim, da Srª Emília e Sr Artur,do Zé Higino que era sapateiro e do Xico sapateiro que no fim de contas era taberneiro. Tinha uma varanda que servia de eira, sala de jogo da malha, de salão de baile. Ao Domingo os rapazes iam para lá jogar a malha e beber copos de vinho tinto com tremoços.

A malha de ferro voava até ao adversário no meio de um palavrão com a certeza de quem derruba por artes mágicas. Eram assim os Domingos à tarde, nas tardes calmas e soalheiras da canícula de um Verão no meio das serranias bordadas a mato e pinheiros.

E o Xico Sapateiro mais a mulher, dentro de um balcão feito de tábuas negras e surradas com lixo de anos.

Ele, homem dos seus cinquenta anos, lento, como lentos são os dias passados na aldeia, gordo e bochechas vermelhas.

Ela, a mulher, pedia licença a um pé para mexer o outro, ou seja, lenta, lentinha..... ainda mais que o marido, também de faces vermelhas, ria por tudo e por nada, enquanto as gargalhadas e conversas sem interesse se desenrolavam até bem perto da noite, hora que em silêncio se iam levantando do banco corrido colocado ao fundo da taberna.

O chão de terra batida e negro pelo pisar dos homens e das botas cardadas, do vinho entornado ia assistindo, tarde após tarde, ano após ano, sempre ao mesmo ritual.

Não havia nada, mais nada para fazer. E fui subindo a rua. Fui encontrando os seus moradores e ao mesmo tempo revivendo o tempo antigo.

Não se pense que recordar o tempo passado é o mesmo que ficar carpindo como um velho, agarrado ao passado e às mágoas . Sem passado não se pode construir o futuro.

Acredito que daqui a alguns anos aquela aldeia perdida na serra ganhe novamente vida, as casas renovadas fervilhem de vida como outrora. As crianças percorram aquela rua, agora quase deserta. A correr e a rir. O sino da igreja faça repiques de casamentos e batizados como naquele dia em que eu, também, ali me casei. E volto às memórias antigas. E tão antigas ......

O Xico Sapateiro que não era sapateiro, mas sim taberneiro, tinha duas filhas em idade de arranjar namoro e, casar. Havia que fazer por isso. Com uma sala de baile ali tão perto, até era ao ar livre, uma concertina tocada de “ouvido” por um “ moço” que ali apareceu a fim de trabalhar numa casa como criado. Agora já tudo muito mais animado.

Aos Domingos à tarde juntavam-se as raparigas acompanhadas das mães que ficavam enlevadas vendo as suas meninas dançando esperançadas de um futuro namoro. Naquele Domingo à tarde tudo se repetia. Invariavelmente da mesma maneira.

Começa o toque da concertina. Algumas raparigas a dançar levantavam a saia rodada no movimento da roda da “ moda”

É, então, que lá ao fundo da escada aparece um rapaz mais ou menos conhecido vindo da aldeia vizinha, fato preto meio amarrotado, camisa de linho, botas de atanado, cardadas e boina na cabeça, cara de labrego, torrada pelo sol e pelo trabalho duro do campo.

Devagarinho vai-se chegando a uma das filhas do dono da taberna e de mansinho, a medo, vai perguntando:

__ Menina “ Coceição” vamos dançar a moda do “ grafanhoto” ...... ?

A menina “ Coceição” foi dançar a moda do “ grafanhoto” e nunca mais parou.

Passaram meses e o rapaz do fato preto, amarrotado, e cara de labrego saiu da igreja com o sino a repique numa manhã de Domingo, de braço dado com a menina “ Coceição” ainda meio envergonhado por naquela tarde ter pedido para dançar a moda do “ grafanhoto”

A Patriarcal queimada

A Patriarcal, sede de uma das duas dioceses em que Lisboa estava dividida, como contámos na última edição, situada junto ao Paço Real da Ribeira, desapareceu no terramoto de 1755. Onde realojá-la? A velha Sé estava fora de questão, porque era aí a sede da outra diocese, tendo-se escolhido, depois de várias alternativas, a construção de uma nova Patriarcal no que é hoje a Praça do Príncipe Real. Sobre os alicerces de um palácio que o conde de Tarouca ali tinha começado mas nunca acabado, com mais madeira e panos do que pedra, num misto de barraca e cenário de teatro, iniciou-se o culto em Junho de 1756 . Em 10 de Maio de 1769 declarou-se um fogo e a igreja ardeu por completo. Passou para o convento de S. Bento (actual Assembleia da República) e novo incêndio no dia 31 de Outubro de 1771. Nova mudança para S. Vicente de Fora e novo incêndio, ainda não tinha passado um ano. Quando muitos falavam em castigo divino, um padre da Patriarcal resolveu seguir as pontas à meada, examinou os destroços e viu que alguns ornamentos de ouro e pedras preciosas tinham sido substituídos por metal vulgar e pedras falsas. O autor dos incêndios, para ocultar os roubos, só podia ser Alexandre Franco Vicente, o armador daquele templo. Chamou-o à sua presença e o homem fugiu para Faro e depois para Ayamonte. Um dia regressou a Faro e foi preso. Reencaminhado para Lisboa confessou o crime e em 1733 foi condenado à morte. Atado a um cavalo foi levado de rastos do Rossio até ao alto do Príncipe Real, local do primeiro atentado, onde foi queimado vivo, atado a um poste. António Mendes Nunes - Jornalista - Publicado no jornal i de 21/10/2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Temas: história, judaísmo

A Guenizah do Cairo da Sinagoga Ben-Ezra em Fustat (antiga Cairo), no Egipto, foi um marco de singularidade pelo estado de preservação dos seus documentos. Durante dez séculos - Sec. IX / Sec. XIX - manteve todo o tipo de textos da comunidade judaica local: textos sagrados, responsa rabínica, documentos de casamentos e divórcio, correspondência pessoal, etc..

Em virtude da centralidade geo-política do Cairo durante a Idade Média, aguenizahcontinha material de locais de largamente diferentes e distantes. Uma vez que o material desta guenizah era tão variado e nunca havia sido transportado para ser devidamente enterrado, acabou por servir de maior testemunho da vida dos judeus (e não só) do Norte de Africa e Leste Mediterrânico para além dos séculos XI-XII.

A descoberta e sua importância começou de uma forma particularmente emotiva. Em 1896, foi mostrado a Solomon Schechter, professor da Universidade de Cambridge, (que posteriormente se tornou no presidente do Jewish Theological Seminary em Nova Iorque) um fragmento de texto pelas suas irmãs que haviam comprado a um negociante de antiguidades no Egipto. Schechter reconheceu de imediato que elas lhe tinham passado para a mão uma folha do texto original em hebraico do há muito perdido “Conhecimento de Ben Sira”. Esta importante descoberta estimulou-o a viajar para o Egipto de forma a examinar e adquirir o conteúdo da Guenizah do Cairo para a biblioteca da Universidade de Cambridge. Voltou a Inglaterra com 140.000 fragmentos que iriam revolucionar os nossos conhecimentos da cultura judaica medieval no mundo mediterrânico.

Em baixo poderão ver imagens da colecção de 40.000 fragmentos da bliblioteca doJEWISH THEOLOGICAL SEMINARY. A maior parte dos textos está escrito em Judeo-Arábico e em Hebraico, e contém documentos pessoais bem como fragmentos de textos sagrados. Os fragmentos que irão ver são registos de textos rabínicos.

Para ver em pormenor basta clicar nas fotos

NOTA: Guenizah é um compartimento que serve de agregador temporário e transitório de textos sagrados que se encontram deteriorados, antes de serem enterrados no cemitério.

domingo, 18 de outubro de 2009

Minha Mãe

Descansa em paz, minha mãe.

Partiste. Espera por mim.

Colocaste a tua mão na minha mão

E com um suspiro, findaste.

Sono eterno. Sem regresso !

Partiste e deixaste – me só,

.

Sono eterno, sem fim.

Lá do lugar onde te encontras,

Vela por mim

Não me abandones.

Deste-me a vida.

Dos teus braços fizeste berço,

Embalaste os meus sonhos de criança.

Descansa em paz !

Agora que partiste,

Correm lágrimas de saudade.

.

E nas noites de bréu,

Assomo à janela aberta,

Olho um ponto brilhante no céu.

Eu sei ! És tu, minha mãe !!

Natércia Martins

2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tobias

Tobias

Não sei muito bem como, mas dei por mim longe dos meus irmãos. Tentei gritar e chamar, mas o lugar onde me encontrava era tão quentinho e macio, que adormeci.

Quanto tempo ali estive, não sei. Acordei com o barulho de um portão a abrir e o ladrar de um cão.

__ Mau ! Um cão !

Ouvi uma voz grossa de homem dizer:

__ Quietinho, Fiel !!! Tem cuidado porque hoje trago uma prenda aqui dentro do bolso. Vai ser a alegria dos meninos.

Mais uma porta se abriu e o barulho de vozes fez-se ouvir:

__ Avô, avô trazes uma prenda ?

__ Sim. Não sei se vão gostar.

Uma mão grande agarrou-me com cuidado e tirou-me do bolso. Era uma bolinha preta, pequenina com dois olhitos assustados, assim na palma da mão.

Todos gritaram de alegria:

__ Um gatinho !

Pois era ! Um gatinho muito pequenino, preto, de olhitos castanhos e orelhas tão pequeninas que nem se viam.

Afinal era eu a prenda que o avô trazia. Foi uma algazarra. Todos queriam dar – me um nome. Surgiram sugestões: Óscar, Bolinha, Pantufa, Tareco..... Todos os gatos se chamam tareco. Era um nome muito corriqueiro.

Não havia consenso .... Foi, então que a avó, sentada num velho cadeirão decidiu:

___ Não se vai chamar nada disso ! Vai ser Tobias.

E fiquei Tobias.

Brincava no colo dos meninos e dormia em almofadas. Quando podia dar uma escapadela era na cama do Joãozito. Macia, quentinha, com almofadas de cores garridas. O colo do avô era uma delícia. Aconchegava-me nas suas pernas e as mãos grandes que me trouxeram para casa faziam-me festas . E eu gostava tanto !

As manhãs eram calmas, naquela casa. As tardes passava-as na brincadeira com os meninos. E eles corriam atrás de mim A correr, sempre a correr escondia-me debaixo dos móveis. E eles chamavam:

_ Tobias .... Tobias ....

E eu a brincar, também corria a esconder-me noutro lado Até que depois de tanta brincadeira adormecia e sonhava que aquela era uma boa vida.

Nos dias quentes de verão a janela era o meu lugar preferido. O sol fazia desenhos na parede. Pareciam passaritos a voar. E eu aos saltos tentava agarrá-los.

Fui crescendo e os meninos também cresceram. Já não brincavam tanto comigo e eu também já não tinha tanta vontade de correr. Fiz-me um gato grande, luzidio, com uma vida de rei. Afinal eu passei a ser o rei daquela casa. Comia bem e dormia nos melhores lugares..Quando o Fiel espreitava lá para dentro de casa querendo entrar logo lhe diziam:

_ Aqui não há lugar para cães. E eu olhava-o a gozar com ele.

Um dia, estavam todos reunidos, sentados à mesa e ouvi dizer

_ Para a semana vamos de férias.

Férias ? Nunca tinha ouvido falar em férias. Não fazia a menor ideia do que seriam férias.

Os dias foram passando e não via mudanças na casa. Afinal as férias, não poderiam ser nada de anormal. Isso era o que eu pensava .....

No tal dia de início das férias, carregaram o carro com malas, malinhas e sacos Eu também fui ao colo. Já não cabia no bolso do avô. Só que o avô não ia lá. Sem que eu desse por isso, o avô falecera. Como as coisas mudaram!

Lá longe abriram a porta do carro e deixaram-me ali, no chão. Eu que nunca tinha andado na rua Era mimado como um rei, comia boa comidinha, dormia nas almofadas ou nas camas !

Fiquei quietinho, triste, a ver o automóvel a distanciar-se cada vez mais. Perdi-o de vista.

_ E agora ? Pensei.

Não conhecia nada nem ninguém. Quis entrar por uma porta aberta, mas enxotaram-me como faziam ao Fiel, lá em casa.

Cheio de fome e frio dormi na terra fria de um vaso, com uma flor a servir de teto.

Alguém caridoso deu-me de comer. Ao menos alguém teve pena de mim e fez-me festas, mas também se foi embora.

O dia chegou ao fim. Fui andando e descobri um barracão. Ali não chovia e o frio era menos intenso.

Já aconchegado num monte de palha, ouvi barulho perto. As orelhas ficaram alerta. Um rato passou e viu-me. Olhou com medo que eu lhe saltasse para cima e o matasse. Mas eu nunca fizera isso. Chamei-o.

_ Eu sou o Tobias e tenho medo, fome e frio.

_ Olha, Amigo. Aqui cada um por si. Tens que ir à vida. Procura !

Então pensei que todo o tempo que passei dentro de casa tinha sido inútil. Afinal era um prisioneiro daquela gente, sem vontade, molengão, mimado.

Agora, sim Tenho toda a liberdade de fazer o que muito bem me apetece. Posso correr atrás dos pássaros, das rãs, molhar os pés nos charcos. Como onde posso, chamam-me“ bicho”subo às árvores e até faço medo aos ratos. Um dia um cão vadio correu atrás de mim Levantei a cauda e o dorso a fazer-me grande

Sem querer troquei toda a vida de luxo pela minha liberdade !

Natércia Martins

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Uma capital e duas dioceses

por António Mendes Nunes, Publicado em 14 de Outubro de 2009 no jornal i.
A 8 de Julho de 1716 chegou a Roma uma luzida embaixada liderada pelo marquês de Fontes, com a qual D. João V enviava belíssimos e riquíssimos presentes ao Papa Clemente XI. Não havia ali ponto sem nó: o rei português, não satisfeito com o conforto do poder temporal absoluto, também quis ter debaixo da sua asa o poder espiritual, se possível com uma melhoria, a passagem de um bispado sujeito à diocese de Braga, como sucedia desde 1147, a um patriarcado que só responderia perante Roma, e perante o rei, bem entendido. Quatro meses depois o favor foi retribuído. Em 7 de Novembro desse mesmo ano, pela bula pontifícia In supremo Apostolatus solio, era criado o patriarcado de Lisboa com sede na capela do paço real. Como o antigo bispo não podia ser despedido, ficou com uns restinhos de território e com a sé de Lisboa. E assim durante um século Lisboa teve duas dioceses. D. Tomás de Almeida foi o primeiro patriarca de Lisboa (1716-1754), com avultados presentes e enormes dotações. A capela real do Paço da Ribeira, localizada onde hoje está parte da Praça do Município e o edifício da câmara, foi aumentada para o dobro. Tomaz Pinto Brandão e Barbosa Machado, cronistas da época, dizem-nos que era magnífica, guarnecida de belíssimas pinturas de mestres e toda forrada de ouro. Opinião diferente deixou Pierre Humbert, um tipógrafo holandês de passagem por Lisboa, no seu livro de 1730 "Description de la Ville de Lisbonne". "A sede da patriarcal é no paço do rei. É grande, mas quanto à arquitectura e às suas pinturas é tudo de muito mau gosto e vulgar."

sábado, 10 de outubro de 2009

A Senhora que queria água

Nas aldeias, a cama dos animais faz-se com mato. Há que roçar, colocar em paveias e transportá – lo para casa. Trabalho duro, sem dúvida. Mas alguém tinha que o fazer, quando as cortes cheias de gado, reclamavam por uma cama. Hoje, os tempos mudaram e poucos os que ainda conservam animais na corte e roçam mato.

Era, também, costume colocar o mato em valas fundas na rua a fim deste” curtir” com a passagem de animais e pessoas que além de o pisar, também deixavam os dejectos. Não se usava adubo químico ou outros fertilizantes, além do estrume feito, naturalmente pelos animais.

Os homens e mulheres iam para o pinhal com enxadas e roçavam o mato que picava e feria as mãos já calejadas de outros trabalhos.

No degrau da minha porta, numa noite de lua cheia e depois de um dia de calor intenso, e os corpos suados ávidos de um pouco de fresco do pôr do sol, o meu vizinho Alfredo contou mais uma das suas histórias que todos conhecem mas gostam de recordar uma vez, outra e mais outra.

Andava o Ti Albano e o Ti Salvador calados na tarefa de roçar o mato que nascia rijo e forte no meio dos pinheiros. Só se ouvia o bater da enxada e uma ou outra plavra trocada entre ambos. O calor apertava e as cega-regas no seu canto monótono insensíveis e esquecidas de tanto calor.

Ouviram uns passos lentos e leves. Ao mesmo tempo olharam para trás. Ao fundo, bem ao fundo, meia dúzia de casas encravadas na secura do pinhal e do mato seco.

A água sempre escasseou naqueles sítios. Olharam mais de perto. Era uma senhora bem vestida e com ar cansado. Pediu água. Um púcaro de água. Os dois homens entreolharam-se e ao mesmo tempo olharam para a cântaro. Estava quase no fundo. Se ficassem sem essa .... teriam que ir buscar mais. E a fonte que ficava lá ao fundo da ladeira. Longe ..... E trazida às costas ..... Não ! Não havia água para ninguém!!! Responderam de forma desabrida:

__Há, sim, água, mas só para quem trabalha!!

A senhora olhou mais uma vez para os dois homens e desapareceu.

As enxadas continuaram a bater no chão duro, derrubando paveias de mato.

Olhando para trás a surpresa foi grande. O cântaro estava cheio de água e tão cheio que escorreu, molhando o chão antes seco, mas todo o mato roçado desapareceu empilhado bem no cimo de um monte de pedras, inacessível, escorregadio, sem possibilidade de o tirar de lá, ficando assim, anos a fio, sem nunca ninguém entender como foi ali parar.

A história que os dois homens contavam, ficou na memória das pessoas, perdida até hoje e só relembrada de tempos a tempos que com uma pontinha de emoção a conta numa roda de gente que imagina como tudo isto terá acontecido.

Pensando bem,lenda é lenda ..... acreditamos ou ... talvez não !!!!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mas isto é o da Joana?

O Quartel de Campo de Ourique, à Rua Ferreira Borges, foi fundado em 1762, nos tempos do Marquês de Pombal e foi mudando de designação conforme os regimentos que o ocuparam. Começou por ser de Minas e depois passou para Infantaria. No final da I Guerra Mundial passou a ser de Sapadores de Caminho de Ferro e hoje é a Escola do Serviço de Saúde Militar. Na década de 1960 e 1970 por lá passaram muitos nomes sonantes da rádio e da televisão, pois era aí que estavam adidos os militares dos Serviços Cartográficos do Exército. A “fauna” era muita e diversificada, mas muito pouco militar, com músicos, apresentadores de televisão, jovens realizadores de cinema e jornalistas em início de carreira, a não levarem aquilo muito a sério, com visitas “proibidas” pela noite dentro e boas mesas de póquer na sala do oficial de dia. Parece que era sina do quartel, já foi nele que nasceu um dos ditos que bem caracteriza a bagunça nacional. No século XIX , um dos comandantes tinha uma criada chamada Joana, com influências que moviam montanhas. Quando alguém queria qualquer coisa não metia empenho nem ao comandante, nem aos oficiais, mas sim à dita Srª Joana, que a seu bel-prazer fazia nomeações, trocas, punia, transferia e despachava. De tal modo era a sua influência que o povo passou a chamar-lhe o Regimento da Joana… e a interrogar qualquer interlocutor menos dado à ordem e à disciplina com a sacramental frase: “Mas tu pensas que isto é o da Joana?”.

António Mendes Nunes - Jornalista Publicado no jornal i em 7 de Outubro de 2009

AntonioMN

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Dia Internacional da Musica

A Música

A música é alegria

É tristeza

É abrir o livro da vida

É amor

É sofrimento

É vida !

É nascer,

É morrer,

É amar,

É odiar

É ir embora e depois voltar

É pisar a relva molhada

É olhar o Sol a nascer

Mas também o pôr do Sol

É rezar,

É olhar

É pensar em mim e mais alguém

É comer pão com manteiga.

É cheirar um botão de rosa com orvalho.

A música sou eu

A música és tu.!!!

É revolta

É calma.

É chorar

É magia.

Com a música roubei um beijo

Corri de pés descalços

Tentei esquecer , quem não esqueci nunca.

Quis apanhar uma estrela no céu.

Chorei no meio da multidão

Procurando uma só pessoa.

Enfim !

A música é tudo isto.

Afinal é abrir o livro da vida !!!!

Natércia Martins