A foto não está muito boa, foi recortada de outra aqui publicada, mas dá para ver o Joãozinho de cócoras no meio de colegas maior que ele.
Quem se lembra do Joãozinho (ou Quinzinho?), o miúdo de 5 anos que de repente apareceu no IVS em 1958 vindo do então Congo Belga, onde os pais viviam, durante a fase conturbada imediatamente anterior à descolonização? O Joãozinho era de longe o mais novo de todos os colegas, uma vez que a instrução primária começava aos 7 anos e para o Joãozinho poder frequentar o internato do IVS foi preciso uma autorização excepcional, como excepcional era, então, a situação no Congo Belga.
Recordo três histórias deliciosas protagonizadas pelo Joãozinho, logo que ele começou a ambientar-se ao internato, onde todos os colegas eram mais velhos, como já referido.
Primeira história – Um belo dia o director Gil Marçal entra por aquele enorme portão de ferro de acesso ao velho internato, ao lado da fonte, e vê um palavrão escrito a giz a três palmos acima da base da parede. Um palavrão àquela altura não deixou dúvidas ao Dr. Marçal, quanto ao autor! Voltou-se para o Prefeito Paiva e ordenou-lhe que fosse buscar o Joãozinho. Chegado o Joãozinho desenvolve-se esta conversa:
“Joãozinho, foi o menino que escreveu aquela palavra na parede?", pergunta o director do IVS, com aquela cara sisuda que exibia naquelas circunstâncias.
O Joãozinho aproxima-se da parede e começa a soletrar o palavrão...
“Não fui eu Senhor Doutor...”, gagueja e logo a seguir, ilumina-se-lhe a cara e remata, “Essa palavra não está no meu livro!”
Segunda história - Depois de tocado o recolher (lembram-se que havia um corneteiro que tocava a alvorada e o recolher?), nós iniciávamos as nossas pequenas patifarias. Uma delas, depois de apagadas as luzes nas camaratas, era quando alguém ia à casa de banho, entreabríamos ligeiramente a porta da camarata, colocávamos uma bota ou um sapato entre o topo da porta e da parede, para quando o colega empurrasse a porta para entrar o sapato ou a bota cair-lhe na cabeça. Pois bem, numa certa noite o Dr. Marçal resolver fazer uma vistoria pelas camaratas e, ao empurrar a porta de uma das camaratas cai-lhe uma bota diminuta na cabeça, derrubando-lhe o charuto (apagado) e os óculos. Baixa-se, recupera e coloca os ósculos, pega na bota e, pelo tamanho, não teve nenhuma dúvida a quem pertencia...
“Joãozinho vem já aqui!”, gritou. E lá ficou o Joãozinho sem recreio durante 3 dias!
Terceira história - Do lado direito do jardim à frente do antigo internato havia um pequeno reservatório de água com uns peixinhos vermelhos. Todos nós sabíamos quantos peixinhos lá havia, dávamos côdeas de pão aos bichinhos e ficávamos a vê-los nadar. Um belo dia alguém repara que faltavam alguns peixes. Pusemo-nos à espreita e não foi preciso muito tempo de espera para aparecer o Joãozinho, olhar para todo o lado para certificar-se que ninguém via, tirar do bolso um cordel com um bocado de arame dobrado e pôr-se à pesca...
Por onde andará o nosso Joãozinho?
Sérgio (IVS nº 192)
1 comentário:
Pelo que estive a lembrar-me e também a falar com o meu irmão ( o 14 ), o miúdo que está do nosso lado esquerdo junto ao Joãozinho, lourito é o Manel, filho adoptivo do Dr Gil. Morreu de acidente há uns anos.
Perdoem-me se não é o Manel.
Natércia
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