quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Foguetão

Quando conto aos meus filhos que antigamente, antes do 25 de Abril, não podíamos falar com os rapazes, pois as escolas eram de sexos separados: cada um para seu lado.... eles fartam-se de rir.

O colégio onde estudei era misto Os rapazes num recreio e as raparigas separadas deles por um muro bem alto.

Sempre ouvi que o fruto proibido é o mais apetecido.. Fazíamos malabarismos incríveis só para os ver. Falar-lhes às escondidas. E como era bom uma pequena escapadela até às escadas ou ao corredor ande eles estavam.

Os pequenos namoricos ..... Esses eram também às escondidas. Passávamos papelinhos escritos em folhas arrancadas, de caderno. Até o papel que usávamos tínhamos que dissimular

dentro de cadernos de apontamentos “inocentemente” trocados durante o intervalo das aulas.

Havia uma janelita alta no cima das escadas que era território disputado com “ unhas e dentes”. É que a tal janelita estava estrategicamente colocada para o recreio dos rapazes. Quantas zaragatas, quantas dentadas e unhadas pela disputa da janelita.

Outros tempos ......

-junto ao colégio havia um campo de futebol, para os rapazes, claro !

Nós jogávamos ao mata, bilharda ou outros jogos considerados femininos, mas no recreio oposto.

O Director do colégio era um homem muito rígido. Com os óculos na ponta do nariz parecia que era bruxo

Aparecia sempre quando menos esperávamos. Havia de aparecer quando uma de nós tinha “ conquistado” a dita janela. Que pena ! Tanto trabalho e os rapazes lá em baixo sem nós os podermos olhar.....

De vez em quando, muito raramente, dava-nos autorização para se ir ao campo de futebol. Havia por lá actividades que, mesmo, sem o minimo interesse se agarravam com algum entusiasmo, pela nossa parte. Estavam lá os nossos “ meninos” !!!

Mas a juventude irreverente e imaginativa sempre soube dar as volta às questões. O meu irmão, o Sabe Tudo, O Bolinhas e o Papa lembraram-se de lançar um foguetão. Ainda hoje, quando falo nisto a qualquer um deles, abrem-se num sorriso maroto.

Será que pensaram em gozar com toda a gente ? Se foi isso que pensaram, conseguiram.

A história é assim: um chapéu de chuva aberto, um lençol, e alguns tubos de ensaio cheios de pólvora Só isto ? Pois !!!! E o estratagema para a infiltração no território feminino ?

Elas coseram pacientemente sob a orientação deles as varetas do chapéu ao lençol.

Levou alguns intervalos. Bastantes intervalos, claro. E o dia marcado lá chegou. Cartazes pendurados pelos corredores anunciavam a subida do foguetão.

Primeiro os “ cientistas” e algumas raparigas para recoserem as linhas partidas ou mal cosidas. Depois a população do colégio: professores, empregados e vigilantes.

Montado o cenário levaram algum tempo Havia que criar algum suspense....

Debaixo do chapéu e do lençol em forma de cilindro, o meu irmão ( “boa peça” ) acendeu o tão esperado fósforo e chegou ao tubo da pólvora. Mas em vez do foguetão subir fez um fraco e envergonhado PUM. O lençol e chapéu em fanicos e toda a gente a rir.

Nota: Esta história quase verdadeira passou-se no Instituto Vaz Serra em Cernache de Bonjardim lá para os anos 50 e........

Natércia Martins

Nota: Esta pequena história foi escrita muito antes deste blog começar. Os nomes que aqui figuram podem não ter sido os verdadeiros intervenientes. Também tem alguma ficção. Mal eu sabia que iria figurar e avivar a memória de alguns que ainda se lembram do lançamento do foguetão no Instituto

4 comentários:

Sérgio Lopes IVS 192 disse...

Mais um conto feliz da tua autoria, a fazer justiça à formação que recebeste do prof. Manuel Vieira.

Parabéns.

Anónimo disse...

Já comentei esta linda história da Natércia . Já nos estámos a habituar a esta nossa amiga escritora e poetisa .Agora desafio os nossos colegas a lembrarem-se quem foi um nosso colega "inventor" que , do alto da escadaria do edifício novo , lançou mesmo um mini-foguetão.

Sérgio Lopes IVS 192 disse...

Mas atão kumpadri Acácio, pois nã havera de seri o maninho da autora que ela até diz ''Debaixo do chapéu e do lençol em forma de cilindro, o meu irmão ( “boa peça” ) acendeu o tão esperado fósforo e chegou ao tubo da pólvora...''

Antonio Garcez disse...

Para o Acácio Leite.
Lembro-me perfeitamente do episódio do foguetão.
A tentativa de lançamento foi feita na Quinta da Tuberculosa, acabou numa grande exlosão após 1 ou 2 metros de subida. O inventor, autor e lançador, foi o célebre SABE TUDO.
Um abraço do Garcez