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Astrologia
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Deixando de lado as objecções astronómicas clássicas à astrologia -- que o zodíaco é composto por 13 constelações, não 12; que a precessão dos equinócios faz com que o movimento aparente do Sol pela esfera celeste não coincida mais com as datas astrológicas; e um monte de outras, todas igualmente válidas e igualmente sólidas -- o importante é dizer, da forma mais clara e objectiva possível, que astrologia não funciona. Simples assim. Trata-se de um fato científico, tão sólido quanto o da Terra girar em torno do Sol ou as plantas fazerem fotos síntese.
Como todos os demais fatos científicos, este foi confirmado, checado e re-checado em uma série de estudos.
A tabela acima mostra o resultado combinado de 54 estudos, envolvendo um total de 742 astrólogos, nos quais os astrólogos tentaram associar mapas astrais a seus devidos donos. O resultado não foi melhor do que teria sido se eles simplesmente tirassem cara-ou-coroa na hora de fazer a ligação entre carta e pessoa.
A tabela abaixo é ainda pior: ela mostra a proporção em que mais de 500 astrólogos, envolvidos em 28 estudos, concordaram na interpretação de mapas astrais -- mais ou menos como seria mostrar um mesmo raio-X a vários médicos diferentes e ver se todos chegam ao mesmo diagnóstico.
Resultado? De novo, o mesmo se os astrólogos tivessem decidido concordar ou discordar jogando uma moeda para o alto. Era de se esperar que os praticantes de uma forma de "sabedoria milenar" conseguissem, pelo menos, chegar a um acordo, depois de tanto tempo!
Ah, sim: a fonte das tabelas é este artigo científicohttp://www.rudolfhsmit.nl/u-case2.htm que pode ser encontrado neste website http://rudolfhsmit.nl/index.html
O facto, no entanto, é que a astrologia parece funcionar para muita gente. O fenómeno, no entanto, é meramente psicológico: a astrologia tem uma linguagem peculiar, que é extremamente vaga mas consegue parecer directa e específica. Eu mesmo tive uma boa dose disso na minha adolescência, quando acreditei nesse negócio -- ei, ninguém nasce sabendo, certo? -- e um mapa astral, feito com um horário de nascimento errado, disse que meu ascendente era gémeos.
Li a descrição e ela pareceu correcta, adequada, reveladora. Tempos depois, descobri que meu ascendente era touro e, adivinhe só?, a descrição (outra descrição) também se mostrou correcta, adequada, reveladora...
Este é o chamado "Efeito Forer", ou "Efeito Barnum". Por exemplo, frases do tipo "você é uma pessoa ponderada, mas é perigoso provocá-la além do seu limite" ou "Você trabalha duro mas tende a se acomodar um pouco em certas situações, e por isso tem um potencial ainda inexplorado" ou ainda "sua vida amorosa teve momentos de tensão no último ano" parecem conter informação individualizada e, até, valiosa -- mas, na verdade, aplicam-se a praticamente qualquer um.
Somando-se a isso há o fato de que astrólogos que prestam consultas pessoalmente muitas vezes são pessoas de grande sensibilidade -- inteligentes, capazes de avaliar os medos e angústias de quem as consulta com uma boa chance de sucesso -- e, portanto, aptas a oferecer bons conselhos e razoável apoio psicológico. Mas, se fazem isso, não é por causa da astrologia, mas a despeito dela: não fazem nada que um bom amigo ou um ouvinte atento e interessado não poderia fazer, e certamente oferecem muito menos que um psicólogo profissional.
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