quarta-feira, 30 de junho de 2010

Crónicas do AntónioMN

ESPECIALISTA HISTÓRIAS DE LISBOA

Mãos de fada

por António Mendes Nunes, Publicado em 30 de Junho de 2010
Maria Teresa da Conceição Borges nasceu no Rio Seco, em 1753, não se sabendo se na rua do Mirador, onde morava em 1819, quando a sua fama de bordadeira a atirou para as páginas do jornal da época, a "Gazeta de Lisboa". Não se sabe nada sobre a família, mas não devia ser gente de pé descalço, não só pelo tamanho do nome (nessa altura o povo tinha dois nomes e era um pau!), como pelo apurado gosto artístico.
Estranho era morar no Rio Seco, uma Lisboa de poucos pergaminhos e nenhumas tradições, que, grosseiramente, podemos delimitar pelas ruas do Mirador e Rio Seco a poente, Rua daAliança Operária, a nascente, e Rua do Cruzeiro, a norte. Para sul, seja o que Deus quiser, e vamos pôr os marcos na Rua da Quinta do Almargem.
Conta a "Gazeta de Lisboa" que aos 66 anos bordou em ponto de agulha em retrós, sem ter estudado regras de desenho, a grande estampa da Ceia do Senhor, gravura de Morghen, copiada do quadro de Leonardo da Vinci. Num artigo de Rodrigo Vicente de Almeida, publicado no n.o 6 da "Arte Portuguesa" (1883), pode ler-se que a senhora bordou aos 80 anos uma imagem de Nossa Senhora da Conceição que, meio século depois, figurou na Exposição das Indústrias Caseiras, realizada no Porto. Mas os seus dotes haveriam de chegar à corte, com os retratos bordados de D. João VI e D. Carlota Joaquina, por volta de 1824, o que lhe valeu uma pensão de 12 mil réis por ano, o que equivaleria, nos dias de hoje, a cerca de 500 euros. Uma miséria, convenhamos. Mesmo assim, depois das convulsões das lutas liberais, D. Pedro IV cortou-lha, quatro anos antes da morte da artista, em 1837.

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