ESPECIALISTA HISTÓRIAS DE LISBOA
Uma roleta no S. Carlos
por António Mendes Nunes, Publicado em 28 de Abril de 2010
Na semana passada escrevemos sobre António Marrare, o napolitano que ensinou os lisboetas a apreciarem o bom café. Voltamos hoje a contar uma história deste verdadeiro empreendedor, namoradeiro dos quatro costados e antimiguelista ferrenho. Em 1833, quase um ano antes da assinatura da Convenção de Évora-Monte, que pôs fim à guerra civil, com a derrota dos partidários da monarquia absoluta, ofereceu um banquete faustoso no seu Marrare do Polimento, a que assistiram dois importantes chefes liberais, os duques de Palmela e da Terceira.
Já desde o início da década de 1810 António Marrare se tornara o fornecedor oficial do botequim do Teatro de S. Carlos, acabando por passar à sua exploração directa meia dúzia de anos mais tarde. Nessa altura arranjou namoro com Margarida Bruni, bailarina de uma companhia italiana, tendo-se tornado seu amante de casa e pucarinho. A Bruni acabou por se tornar empresária do teatro, de sociedade com João Baptista Hilbrath, com o apoio logístico de Marrare. Se as óperas eram uma miséria (a Bruni não pagava aos artistas) e o teatro estava muito tempo sem espectáculos, como se pode ler numa advertência da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino no Diário do Governo de 29 de Novembro de 1822, as festarolas de comes e bebes eram o máximo. Um dia a Bruni e o Marrare resolveram instalar uma roleta no S. Carlos. Foi a gota de água. Por ordens do intendente Pina Manique, a concessão acabou-se. A Bruni eclipsou-se e o Marrare continuou a sua carreira triunfal de estalajadeiro, até à morte, em 1839.
Editor de opinião
Escreve à quarta-feira
1 comentário:
Sempre a aprender com o nosso 14!
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