quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
puzzle humano
Entre finais de Julho e finais de Agosto de 1710 a sociedade lisboeta horrorizou-se com um espectáculo macabro: o aparecimento dia após dia de sacos com restos humanos. Os sacos eram deixados no sítio então chamado das Obras do Conde de Tarouca como se de um jogo se tratasse e cada bocado encaixava no anterior como se fosse um puzzle, retalhados por quem parecia ter bons conhecimentos de anatomia. Além do mais, a maneira como os despojos eram deixados não dava a ideia de uma tentativa de ocultação, mas antes de um acto de arrogância, de um jogo macabro. Um mês depois o corpo ficou completo, ou quase. Verificou-se que pertencia a uma jovem mulher, mas a quem faltava a cabeça. Dias depois a cabeça apareceu na Junqueira, juntamente com o corpo de uma criança de tenra idade.
Relatos da época dizem que a vítima teria sofrido sevícias, a que hoje chamaríamos sado-masoquistas, antes da morte.
Nem a recompensa de mil cruzados oferecida pelo rei D. João V, nem a exposição da cabeça da assassinada à porta da Misericórdia abriram pistas que conduzissem à identificação de assassino e assassinada.
Entre o povo atribuía-se o crime a jogos de algum nobre e seus comparsas, com alguma desgraçada que lhes tivesse caído nas garras.
Entre a nobreza falava-se de crime cometido por açougueiro na tentativa de eliminar mãe e filho, fruto de amores clandestinos.
A verdade é que o sítio adquiriu má reputação, uma espécie de maldição que se haveria de manter por mais de um século, até à construção de um jardim, em 1855, no local que desde então se passou a chamar Praça do Príncipe Real.
António Mendes Nunes
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1 comentário:
Mais uma interessante história contada pelo nosso 14, ainda que um tanto macabra. Confesso que não conhecia os antecedentes da Praça Princípe Real, por onde passo amiúde. Obrigado 14.
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