quinta-feira, 25 de novembro de 2010
O último enforcado
Numa manhã de Primavera, há mais de século e meio, a Rua de S. Paulo viu passar a triste procissão que conduziu à forca o último condenado à morte por crime civil em Portugal.Num prédio da esquina de S. Paulo para o Corpo Santo, Francisco de Matos Lobo matou em 1841 uma senhora francesa, Adelaide Kierot, uma sua filha, uma criada e ainda o cão da família, pelo que foi sentenciado à forca. A história é narrada por Júlio Dantas em "Lisboa dos Nossos Avós". Um ano depois, o preso, vestido com a alva e o laço da corda que o haveria de enforcar, foi obrigado a ouvir missa no oratório da cadeia do Limoeiro. Teve um ataque e acabou a missa atado a uma cadeira, para não cair. Depois, em procissão, foi transportado amarrado à mesma cadeira, aos ombros de quatro forçados das galés, pela Sé, Rua do Comércio, Arsenal e Corpo Santo até ao local do crime, seguindo pelas ruas de S. Paulo e Boavista até ao Cais do Tojo (em frente ao Largo do Conde Barão). Foi içado para o patíbulo, já a espumar sangue pela boca, num quadro horrível, mas de que a populaça não perdeu pitada.O prior que o acompanhou, crucifixo na mão que dava a beijar ao condenado, tombou lá do alto, fulminado com uma apoplexia. O padre que avançou para dar a extrema-unção ao colega também caiu desmaiado e teve de ser levado em braços. Depois de Matos Lobo já ter sido sentenciado, um dos carrascos caiu igualmente abaixo do patíbulo e partiu uma perna.Poucos anos depois a pena de morte seria banida no nosso país, um dos primeiros do mundo onde isso aconteceu.
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Editor de opinião
Escreve à quarta-feira
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