quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Bolo Rei da Nacional
O bolo-rei é lisboeta, embora pouco a pouco se tenha tornado numa gulodice portuguesa. Nacional, diríamos melhor, porque foi na Confeitaria Nacional, ainda hoje vivíssima ali à Praça da Figueira, que ele nasceu há quase 150 anos.
Mas a história deste bolo (ou algo semelhante) iniciou-se muito antes, em terras de França, reinava então Luís XIV (reinou de 1643 a 1715) e chamava-se gâteau dês rois. Tão famoso era que o pintor Jean Baptiste Greuze o imortalizou num quadro. Durante a Revolução Francesa o nome foi proibido e passou a chamar-se bolo dos sans Culottes (sem calções, a que chamaríamos hoje povo) ou bolo da boa vizinhança.
Mas como é que chegou a Lisboa? Em 1829 Baltazar Roiz Castanheira, um transmontano de Vila Pouca de Aguiar, abriu a Confeitaria Nacional, que em pouco tempo se transformou numa referência em Lisboa, com os seus bolos e refrescos. O nosso confeiteiro pôde mandar o filho, Baltazar Castanheiro Júnior, a França e a outros países ver o que lá fora se fazia de melhor e foi numa dessas viagens, por volta de 1860 que ele trouxe, provavelmente do sul de França a receita e uma litografia do quadro de Greuze. Quando tomou conta da gerência da casa pela morte do pai, em 1869, contratou chefes pasteleiros em Paris e Madrid e lançou o bolo-rei, que seis gerações depois se mantém como o mais famoso de Lisboa.
Tal como em França na altura da Revolução, também em Portugal, depois da queda da monarquia em 1910 lhe mudaram o nome. Os mais inflamados chamaram-lhe bolo república, outros bolo de Natal ou bolo de ano novo, mas passado pouco tempo voltou ao nome original e bolo-rei se mantém até hoje.
António Mendes Nunes, jornal i, 22 de Dezembro de 2010
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