quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um testamento por cumprir

O Largo de Santa Bárbara, a dois passos da Almirante Reis foi testemunha silenciosa de que o homem põe e Deus dispõe. No século XVII era sítio com muitas hortas e poucas casas. Uma família Barros, de grandes teres e poucos pergaminhos era a grande proprietária da zona. Em 1676 uma herdeira dessa casa uniu os seus destinos ao futuro desembargador Inácio Lopes de Moura, homem de alguma cultura e muito mais de vaidade, então com 24 anos. Já depois de chegar a desembargador alargou os domínios, apanhando uns terrenos que havia à volta a troco de umas obras públicas de duvidosa valia, reformou a velha casa de família da mulher transformando-a num palácio que ocupava o espaço onde hoje estão dois prédios, o que tem o nº 8 e que faz esquina para o largo e o que pega com este e completa a ponta do quarteirão para a Rua Passos Manuel. A mulher morreu em 1701, deixando-lhe cinco filhas, e o desembargador em 1709. É interessante o seu testamento que começa com um enérgico “Quero, ordeno e mando”. Para além de ofícios por alma da mulher, obrigava os seus descendentes a morarem “enquanto o mundo durar” naquela casa, a menos que alguma pessoa real lá quisesse viver. Era de largos voos o senhor! O terramoto de 1755 provocou grande ruína no palácio e em 1810 começou a propriedade a retalhar-se. Em meados do século XIX foi vendida à Casa Pia de Lisboa, para no local se construir uma Praça de Touros, mas o projecto não foi avante. Em 1890 as ruínas do palácio vieram abaixo. O “enquanto o mundo durar”, afinal não foi além de uns escassos 50 anos. Por António Mendos Nunes, editor de Opinião no Jornal i

3 comentários:

Natércia Martins disse...

Não há verdade maior : "O Homem põe e Deus dispõe" mas vendo bem: 50 anos ( meio século) nem é assim tanto tempo ....
Apenas faz uns cabelos brancos e uma rugas..Mais nada !

Sérgio Lopes IVS 192 disse...

Esqueceste-te de uma dores por aqui e por ali, ó Natércia!

O teu irmão é que nos traz sempre algo de interesse para a nossa cultura. Eu não sabia desta história e agradeço ter ficado a saber. Fui logo ver quem foi o "figurão" (lato sensu) Inácio Lopes de Moura. O homem merece mais pesquisa da minha parte. Obrigado AntónioMN.

Natércia Martins disse...

Pois as dores .... essas temos que as aguentar.
Ele sabe muito ? Pois tem obrigação disso. É jornalista.Os jornalistas sabem muito mais do que nos parece.