domingo, 14 de fevereiro de 2010
Estreia mortal
O PRIMEIRO automóvel que Lisboa viu foi também o primeiro que veio para Portugal. Chegou por barco à alfândega de Lisboa em 1895 e criou logo uma grande confusão, porque ninguém sabia como havia de taxá-lo. Uns argumentavam que devia figurar na pauta das máquinas a vapor (que nunca foi), enquanto outros insistiam na pauta das máquinas agrícolas (que também não era). Acabou por sair como locomóvel, o que quer que isso fosse para aqueles funcionários que só deveriam querer livrar-se de um grande imbróglio.
O proprietário era o quarto conde de Avillez, Jorge de Avillez, na altura com 26 anos, morador no palácio da família em Santiago do Cacém, no Alto Alentejo.
O carro era um Panhard & Levassor com rodas de aros metálicos e um motor Daimler com dois cilindros em V e a força de 1cv e ¾. Conseguia atingir velocidades entre os 5 e os 20 km/h em plano e arrastava-se penosamente à mais leve inclinação.
Jorge Avillez, apesar de muito novo, era um viajante experimentado e já com alguma da condução, em França, daqueles, à época, estranhos veículos sem cavalos. No próprio dia do desalfandegamento partiu com a viatura para a sua vila natal, no Alentejo. Perante o espanto de muita gente que veio ver passar a maquineta, atravessou de barco para Cacilhas onde, na que foi a primeira viagem de um automóvel em Portugal, se deu o primeiro acidente mortal: um burro foi atropelado e foi desta para melhor.
O animal era propriedade da família Folque, que exigiu o seu pagamento. Num artigo de Rita Roby Gonçalves, a autora diz que a azémola não valeria mais de 5 mil réis, mas Jorge Avillez terá pago a exorbitância de 18 mil réis, tanto quanto lhe foi exigido para poder seguir viagem.
por António Mendes Nunes, Editor de Opinião no jornal i. Publicado em 3 de Fevereiro de 2010
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