domingo, 31 de julho de 2011

A velha caixa

Tenho uma caixa de papelão muito velha, atada com um cordel velho como a caixa, pousada numa prateleira. O nó do cordel, bem apertado, não se deixa desatar. Puído, mas seguro.

Nunca ninguém se atreveu a ver o que tem lá dentro.

Quando a minha avó ainda era viva, não deixava que eu ou o meu irmão lhe tocássemos. Dizia que tinha lá dentro um segredo.. Pois! Um segredo !

Que raio teria a caixa lá dentro ?

Um dia, numa tarde quente de verão, a casa parecia sem ninguém. Vazia. Todos tinham ido à sua vida.

A criada, única pessoa, por perto, naquela tarde, fazia o seu trabalho, arrumando a roupa passada a ferro, lisinha e cheirosa , porque a água límpida do tanque fizera o seu papel e o estendal no corredor das roseiras, túlipas e buganvilias fizeram o resto, transmitindo o seu cheiro à roupa, mesmo sendo o ferro aceso com carvão que cheirava mal.

E a caixa na prateleira !

Uma dessas tardes, o meu irmão e eu decidimos que iríamos ver o que continha a caixa de tão precioso.

Um de nós subiu a uma cadeira, tirámos a caixa com muito cuidado, sentámo.nos no chão ainda hesitantes, mas decididos. Iríamos ver o que estava lá dentro. A caixa era muito leve. Poderíamos afirmar que não continha nada. Mas devia ter.Teria ? Abrimos ? Não abrimos ? Porquê tanta preocupação com uma caixa velha ? Tantas perguntas sem resposta.

Nisto e como por magia, apareceu a minha avó. Mesmo no momento certo. Passou-- nos uma descompostura lal, tão violenta, aguçou-nos ainda mais a curiosidade mas nunca mais tocámos na caixa, nem olhámos para a prateleira, tal o medo que nos pregou.

A avó, passados uns anos faleceu E a caixa lá em cima .

Mudou tudo na casa, menos a tal caixa, muda, quieta, intocável, na velha prateleira, no mesmo sítio.

Agora era a minha mãe que não deixava que se abrisse.

Crescemos e o tempo foi passando.

As férias, os amigos, as aulas, os verões, os invernos, o frio, o calor, as noites de lua cheia, as noites escuras como bréu, os meus namorados, as namoradas do meu irmão, as mortes, os casamentos, os baptizados, tudo se foi sucedendo.

Passaram anos. A velha caixa também mudou de casa. Está ali, juntinho a um relógio de sala que veio com ela de casa dos meus pais.

Sem nunca ninguém ter tido a coragem de a abrir.

O que tem lá dentro ? Não sei !

Talvez nunca ninguém venha a saber porque a caixa vai passando de geração em geração e como se de magia se tratasse, vai ficando com o nó feito de cordel, mas que ninguém se atreveu a desatar.

Natércia Martins

Junho de 2011-07-18

sábado, 2 de julho de 2011

Em pé: Victor, Rocha, Galinha, Almeida, Chico, José Pais, Alvaro.
Em baixo: Duarte, Saul, Isaac, Salvado e Parente
GDVSERNCHE anos 60/61.
Estou a reunir fotos do Sernache dessa epoca para um livro sobre o clube, agradeço historias e fotos dessa epoca.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Estória de Caça

 Conto da autoria do antigo aluno João Facha

Eram mais ou menos 5 da manhã e, nós lá íamos…….

A promessa que já levava alguns meses a ser cumprida, estava agora em marcha.

Íamos aos patos!

Com lama!

Com mosquitos!
 
Com frio!

Sem o pequeno-almoço do costume, mas, lá íamos!

O carro, coitado dele, lá ia chiando a cada buraco, seria estrada, não parecia mesmo, mas sempre íamos em frente.

Cá por dentro ia rindo, o Manel (primo) agarrado ao volante ia “fintando” as covas.

O Rui, a seu lado olhava, segundo a segundo o relógio e só dizia, “Bolas, é tarde!!!  A estas horas já todos os patos estão no Mar!
A meu lado o Pai sorria, com calma, feliz com o ambiente e, com o facto de eu ir ali, encostada ao seu ombro, de olhos fechados como que a dormir com os anjos.

Facto é que, afinal todas as promessas de me levar aos patos estavam em marcha, cumpriam-se.

Na véspera achei graça…. Tantos cuidados…. O farnel, o fogareiro, o sumo, o banco, as botas, até o creme anti-mosquito e, foi por pouco que a espingarda não ficou no seu armário, tal era a preocupação para que nada “ME” faltasse.

Mesmo agora, de olhos fechados, encostada a esta mesa que viu e sentiu já tanta coisa, não consigo (nem quero) esquecer nenhum momento!!!!

Ana! Ana! Acorda filha, chegámos! Ouvi meia estremunhada.
Cá fora era a grande bagunça!

Madrugada alta, frio, pouco vento, mas uma aragem que fazia alguns arrepios, e me fazia lembrar o doce aconchego do “edredon”.

Negaças, botas, camisolas, casacos, gorros, bolsas de espingardas e, palavras soltas, “vento”, “Gordo”, “horas”, “café” e patos, “colhereiros”, “marrecos”,”reais” tudo seguido, no meio indescritível da arrumação à “Homem”, ou seja: tudo ao molho, e Fé em Deus!!!

Dei por mim com uma sanduíche de presunto numa mão, um copo de café pingado na outra, e um saco aos pés!

“Come depressa e não te afastes, é escuro, não te aleijes…. Estás a gostar?.....

Agora, só agora, dei por isso, e já lá vão uns tempos, de facto, estava a gostar…!
 
Eu fico na minha “murraça” adiantou o Rui, tenho fé que ainda tenha ficado para trás alguma ‘marreca’!

O Manel seguiu pela vereda mas sempre disse, “vão vocês lá para baixo, é mais fácil para a miúda, e há menos mosquitos, eu vou para o ‘esteiro’”.

Ainda não tínhamos arrumado as coisas, e dois tiros quase seguidos foram disparados pelo Rui.

Depois, foi a vez do Manel que saudou o nascer do dia com três tiros rápidos. E, nós só mosquitos…

Mais tiros do Rui e um pato todo ‘embrulhado’ caiu na margem… logo depois outro, e nós mais mosquitos, só mosquitos! 

São agora nove e meia da manhã e o meu pai calmamente diz: “mais meia hora e, ala que se faz tarde!...”

Foi a frase mágica, olhei para ele e ao baixar os olhos para a água vi-os, eram três, vinham rente à superfície e direitos a nós…”Pai, olha à direita”, rápido saíram dois tiros e, ainda, um terceiro. Já em pé e a correr vi que dois patos já nós tínhamos!

Por minutos voltou a calma, mas logo depois um grande bando vinha na mesma rota, nova chamada de atenção ao meu pai, mas ele já os vira e da espingarda que eu tantas vezes vi em repouso, saíram três tiros…, rápidos… seguidos, e que derrubaram três ‘marrecos’.

Depois deste alvoroço seguiu-se outra acalmia, o Sol entretanto já nascido, estava alto embora o frio ainda fosse muito.

A caçada, a tal caçada prometida tinha acontecido, agora era o regresso, primeiro ao carro onde os resultados foram largamente comentados.
Eu toda contente, mostrava ao Manel os ‘nossos’ troféus, e arreliava-o pois ele só tinha um, e era mais pequeno. O Rui, com dois patos, alinhava na brincadeira, e voltava a barafustar com as horas, desta vez era o almoço que foi comido num restaurante à beira da estrada.

Nestas coisas, o regresso nunca tem história e, se este teve, eu não a posso contar porque, agora sim, aproveitei o balanço do carro e o ombro do meu pai e dormi todo o caminho.

Agora, que estão postas no papel estas linhas, e que já cheira a primavera, dou por mim a pensar: 

-- Quando é que começa a nova época de caça?

-- Serão saudades?

Convites, esses já tenho!!!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Faleceu Nuno Bonneville

Nuno com o filho

Com muita consternação recebemos ontem, 25 de Maio 2011, a triste notícia do falecimento do ex-aluno e nosso querido amigo Nuno Bonneville com quem partilhámos alguns anos dos nossos teens no internato IVS nos anos 50 do século passado.

Para quem não sabe Nuno Bonneville era pai do forcado com o mesmo nome, com que aparece na fotografia. Não tendo sido forcado, era amigo do Grupo GFA Lisboa há largos anos, tendo sido amigo de Nuno Salvação Barreto e convivido com muitos outros forcados do Grupo nas célebres noites de Lisboa das décadas de 60 e 70.

Ontem foi aprovado na Câmara de Lisboa, por proposta do CDS, um voto de pesar pela morte de Nuno Bonneville, que foi vereador da autarquia no mandato de Nuno Abecassis, tendo sido igualmente presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém.

Hoje, 26 de Maio, realiza-se uma missa às 14h na Igreja dos Jerónimos e o funeral é às 15h30.

Adeus Nuno! Lá para onde foste, descansa em PAZ e guarda-nos um cantinho para quando chegar a nossa vez.

A toda a Família Bonneville, as nossas sentidas condolências.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Crónica semanal do António Mendes Nunes (IVS nº 14)

Revista universal


por António Mendes Nunes, Publicado no Jornal I, em 13 de Abril de 2011

A "Revista Universal Lisbonense", que se publicou em Lisboa em meados do século xix, merece referência especial entre as muitas que existiram na capital. Funcionou na Rua da Horta Seca, no n.o 20 (num prédio que já não existe e onde está hoje a Casa da Imprensa). Saía à quinta e era chegava a todo o país, pelo correio (a Trás-os-Montes ou ao Minho uns quatro dias depois, mas em Lisboa nunca era entregue em casa dos assinantes depois das 11 da manhã).

Tinha arroubos enciclopédicos, pois no cabeçalho apresentava os assuntos de que tratava, nada menos do que crónica judicial, artística, científica, literária, agrícola, comercial, industrial e económica de todo o mundo. As notícias lá de fora eram tiradas de outros jornais, só às vezes com citação de fonte, ou, o que era mais comum, sem qualquer indicação para além de iniciais, nomeadamente as mais fantasiosas, com no primeiro número, de 1 de Outubro de 1841, que noticia que um militar alemão inventara um método para andar sobre a água, sem o auxílio de qualquer aparelho, ou que um francês residente em Portugal tinha descoberto um método barato e eficaz de fazer papel de qualidade a partir de estrume de cavalo. Não faltavam os crimes cometidos em Lisboa, o tempo, os espectáculos da capital e, pasme-se, todos os livros que se encontravam no prelo. A isto não deve ser estranho um dos seus redactores: Feliciano de Castilho. Fechou em 1849 e boa parte dos seus exemplares estão digitalizados em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/RUL/1841-1842/1841-1842.htm.



Editor de opinião

quarta-feira, 23 de março de 2011

Crónica semanal do nosso 14 no i

À sombra dos Jesuítas
por António Mendes Nunes, Publicado em 23 de Março de 2011
 
No início de 1514, aí por Janeiro ou Fevereiro, começaram a abrir- -se as ruas e a demarcar-se os lotes que dariam origem à Vila Nova de Andrade (do nome do proprietário do terreno, a Herdade de Santa Catarina), que não muito tempo depois se passou a chamar Bairro Alto de São Roque. Muitas das ruas que hoje conhecemos mantêm o nome original, casos das ruas do Norte, das Flores (das Froles, se dizia então), da Barroca, da Rosa, das Gáveas, da Atalaia, e ainda outras. Mas o bairro não nasceu todo de uma vez, nada disso. Lá em cima, a parte que pega com os Moinhos de Vento (hoje Rua D. Pedro V e prédios adjacentes) foi cemitério dos mortos de uma peste grande, por carta datada de 1523, como ordenava D. João III, recolhido aos ares mais puros de Almeirim. Mais tarde, em 1555, poucos anos depois de se terem instalado em Portugal (com a primeira casa situada na Lisboa Oriental), os jesuítas mudaram-se também para o Bairro Alto, construindo uma pequena capela no local onde hoje se situa uma das capelas laterais de S. Roque.

Foi talvez a presença próxima dos padres da Companhia que tornou aquele lugar, até aí de olivais, tão apetecido. A ocupação inicial foi de gentes do mar, não propriamente de humildes marinheiros, mas sim de fidalgos navegadores e de mestres, que foram obrigados a construir casa de alvenaria nos três anos seguintes ao aforamento do terreno. Nasceu assim um bairro de ruas ordenadas, ares lavados e sítios amenizados pela sombra das árvores e pelo perfume das flores dos jardins. O Bairro Alto que hoje vemos é igualzinho ao de há 400 anos no xadrez das suas ruas, mas não na concentração de casas. Os quintais e os jardins foram sendo desmantelados para dar lugar a prédios e mais prédios.

Editor de opinião
Escreve à quarta-feira

domingo, 13 de março de 2011

Vitor Coelho. Perdemos mais um colega

É com profunda consternação que transcrevo um mail que acabo de ler da Lócas:


From: Maria da Glória Biscaya
Date: 13-03-2011 0:40:48

To: Maria da Gloria

Subject: Aluno IVS -Vitor Coelho

Hoje, pelas 10 horas, foi o funeral de um companheiro nosso Vitor Coelho


Descansa em PAZ, Vitor.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Namoro do Rossio

por António Mendes Nunes, Publicado em 02 de Março de 2011


A beleza rodeia-nos e nós passamos por ela quase sempre sem a ver. Porque vamos apressados, porque nos habituámos a ver sem atentar nos pormenores, porque sim.

Há dias, na internet, dei de caras com uma boa fotografia de um pormenor de uma das fontes do Rossio, da autoria de Nuno de Sousa e vi duas figuras mitológicas unidas por uma cumplicidade que se adivinha, parecendo namorar. Estas fontes, colocadas na que já foi a praça mais central de Lisboa, datam de 1889 e foram colocadas no sítio onde existiam dois poços abertos em 1837. Tentei esmiuçar um pouco mais a sua história, mas ainda não encontrei grande coisa. Sei que foram mandadas fazer em França, na fundição de Val d''Osne, na região de Champanhe-Ardenas. Esta fundição que fez muita obra em ferro fundido para toda a Europa laborou entre 1836 e 1986. Não sei quem é o autor das estátuas, mas poderá ter sido o escultor Charles Lebourg, um dos artistas que trabalhou para Val d''Osne e utilizou a mesma figuração romântica no arranjo das figuras mitológicas que idealizou para as célebres fontes Wallace, espalhadas por Paris, pelo Rio de Janeiro e, em menor múmero por outras cidades brasileiras e da Europa. As duas fontes do Rossio são constituídas por uma bacia de pedra de cantaria, erguendo-se no meio um grupo de figuras sustentando duas ordens de taças. Cá em baixo quatro sereias seguram cornucópias que jorram água para o topo. Repare bem nas figuras junto da coluna, o grupo escultórico que acho mais interessante.

Editor de opinião

Escreve à quarta-feira





sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A fotografia está em muito mau estado, já tem "alguns" anos. Quem dá nome a estas colegas? Eu já não me lembro.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Estas fotos são do nosso colega, já falecido,Nuno Batista e sua irmã . A 2ª foto data de 1946, na sua comunhão. A última já aluno do IVS. Estas fotos chegaram-me através da madrinha, que também é madrinha do meu filho. Descansa em paz Nuno.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Crónica semanal do António Mendes Nunes

Jorge O''Neill
por António Mendes Nunes, Publicado em 02 de Fevereiro de 2011


D. JORGE Torlades O''Neill foi um excêntrico lisboeta, altamente respeitado, amigo pessoal de D. Fernando II (marido de D. Maria II) e de D. Luís, de quem seu irmão Henrique O''Neill fora preceptor e professor de português e línguas clássicas. Nasceu em 1817 e morreu em 1890 na sua quinta do Pinheiro (mais ou menos na zona onde hoje está o Instituto Português de Oncologia). Os O''Neill vieram para Portugal cerca de 1720, quando Shane O''Neill fugiu da Irlanda com a família e, por motivos políticos, se refugiou em Lisboa. Jorge O''Neill geria os negócios da família, que detinha uma importante casa comercial na Rua das Flores, era poliglota, cônsul da Dinamarca e da Grécia em Portugal, sabia profundamente de música, era um atirador fabuloso à pistola e esgrimia soberbamente quer com o florete, espada ou sabre. O seu quarto era um ginásio enorme, com aparelhos por todo o lado que utilizava diariamente, praticava esgrima com um criado treinado para isso e, ao fundo, tinha uma enorme banheira que usava depois dos exercícios. As ordens na casa eram sempre dadas por si com toques de clarim e com a criadagem da casa e da quinta formou uma companhia de bombeiros privada, levando a cabo simulacros regulares, até ao dia em que houve mesmo um incêndio a sério e a casa ardeu, tendo Jorge O''Neill saltado de uma janela, partindo as pernas. Mas a excentricidade máxima era um cinto especial que nunca largava, com bolsas onde guardava tudo o que se possa imaginar, desde pistolas e balas, a medicamentos para feridas, dinheiro, comida e uma muda de roupa interior. Medo de ter de fugir subitamente, como acontecera ao seu bisavô? Ele nunca o explicou.

Editor de opinião

Escreve à quarta-feira

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Fui de propósito a Castelo Branco ver e visitar o antigo professor de Português. Aqui está no alto dos seus 84 anos, " porreirinho" da vida. Ainda faz campanha política e é mandatário distrital do Manuel Alegre. Encontrei um homem cheio de vida e força: O Dr Manuel João Vieira ! É aqui neste escritório cheio de livros que faz a sua vida diária. Podem ver na parede as fotografias dos netos. Um é médico e o outro actor. O outro neto não sei. Gostei muito de o ver. Está aberto a quem o quiser visitar ou telefonar. Lembra-se de muita gente, menos o episódio do " roubo" do querido Skoda ( era do irmão). O irmão Albertino faleceu assim como o irmão mais novo, que foi nosso colega O José faleceu o ano passado. A visita valeu pelo passeio todo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Teatros do Bairro Alto

É no Teatro do Bairro Alto, na rua Tenente Raul Cascais, que a Cornucópia, uma das mais prestigiadas companhias teatrais portuguesas, tem a sua sede. Fundada em 1973 por Jorge Silva Melo e Luís Miguel Cintra, então dois jovens oriundos do teatro universitário. A companhia só conheceu sede própria depois de 1975, ocupando as instalações do até aí Centro de Amadores de Ballet. Porquê Teatro do Bairro Alto? Creio que é uma homenagem e a continuação da memória de quatro casas de espectáculos que desde o século XVIII existiram na zona. O primeiro terá iniciado funções em 1733, existindo até ao Terramoto de 1755 e foi chamado de “Casa dos Bonecos”, por lá se representarem peças com marionetas, como então estava na moda. Foi aí que os alfacinhas de “capote e faceira”, mais do que provavelmente de cabeleira empoada puderam deliciar-se com as óperas de António José da Silva, o “Judeu”, que acabaria os seus dias assassinado pela Santa Inquisição num gigantesco auto de fé levado a cabo no Rossio, em Outubro de 1739. Outro teatro do Bairro Alto foi a Academia da Trindade (numa sala do palácio dos Monteiros Pains, no local onde hoje está o Teatro da Trindade), que com o anterior co-existiu. Os outros dois foram a Ópera do Pátio do Conde de Soure (Páteo do Conde Soure, à rua da Rosa), que se sabe ter dado espectáculos 1760 a 1771 e onde cantou Luísa Todi e, finalmente, o Teatro do Pátio do Patriarca ou de S.Roque (nas proximidades do actual largo Rafael Bordalo Pinheiro, mais conhecido por largo da Misericórdia), que durou de 1812 a 1835. Publicado em 5 de Janeiro no jornal i por António Mendes Nunes

domingo, 2 de janeiro de 2011

Um capilé como arma letal

Em 1845 o país estava em polvorosa, com revoltas um pouco por todo o lado contra o governo de Costa Cabral, que decretara desvalorizações brutais de moeda e outras medidas que dariam lugar à revolta da Maria da Fonte e à Patuleia, menos de um ano depois. Se o país estava em cacos, o Teatro de São Carlos também não ia melhor. Artistas medíocres, falta de reportório e muitas pateadas.A nossa história centra-se não numa figura principal, mas sim num modesto cabo de coristas, de seu nome José Maria da Conceição, mas conhecido em toda a Lisboa como José Maria Saloio, homem valente, de envergadura física impressionante, normalmente bonacheirão, mas capaz de varrer sozinho uma feira se lhe não falassem com jeito.No dia 26 de Dezembro de 1845 representava-se "Maria Padilla", de Donizetti, houve um pequeno desaguisado e o barítono italiano Luiz Salandri insultou o José Maria Saloio. Este calou-se, mas três dias depois (passam hoje precisamente 165 anos), estava o José Maria a beber um café e uma garrafa de conhaque no Tavares, entrou o Salandri, que se sentou a uma mesa. Mal o viu, o cabo das coristas chamou um criado e mandou servir um capilé (refresco muito doce de folha de avenca) ao cantor. Este fez menção de recusar e de se levantar e de pronto José Maria Saloio lhe pôs a manápula no ombro e o colou à cadeira. Depois desse capilé mandou servir-lhe outro e outro, e quando já ia no sétimo Salandri virava para o seu carrasco uns olhos suplicantes, como a dizer "não posso mais".José Maria Saloio abeirou-se e segredou-lhe ao ouvido: "Para a próxima vez cuidado com a língua, senão duplico a dose. Por António Mendes Nunes - editor de Opinião - Publicado no jornal i em 29 de Dezembro de 2010

sábado, 1 de janeiro de 2011

Faleceu Nuno da Mata Vaz Serra

Penitenciando-me pelo atraso com que dou a notícia, que só ontem a Natércia me confirmou, lamento informar que Nuno da Mata Vaz Serra, filho do nosso saudoso Comendador Libânio Vaz Serra, faleceu aos 77 anos no pretérito dia 20 de Dezembro 2010, em Lisboa.
***
Nuno Vaz Serra nasceu em Cernache do Bonjardim em 28 de Setembro de 1933.
***
Nuno Vaz Serra foi a enterrar no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.
***
Apresentamos as nossas sentidas condolências à família enlutada, entre a qual contamos com grandes amigas e amigos de uma vida inteira, e à qual devemos o privilégio da fundação do Instituto Vaz Serra que tão bem nos formou para a vida.
***
Descansa em Paz Nuno.