segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O verdadeiro Leão da Estrela

Por António Mendes Nunes ***
Se julga que o Leão da Estrela é apenas o filme rodado em 1947 por Artur Duarte, em que Anastácio (interpretado por António Silva), sportinguista de gema, vai ao Porto, de visita ao seu amigo Barata, para ver um F. C. Porto-Sporting, engana-se. Não, o primeiro leão da Estrela foi um animal a sério, um felino de grande juba que Inácio José de Paiva Raposo trouxe de África e doou a Lisboa em 1869. A câmara municipal mandou construir uma jaula e pôs o bicho em exposição no Jardim da Estrela, tendo ficado guardado numas instalações provisórias no Campo Pequeno enquanto a obra se fazia. A imprensa da época conta que o transporte do leão para a Estrela, a pau e corda, ao lombo de doze galegos foi o primeiro espectáculo para os basbaques.
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A 6 de Maio de 1869, o "Jornal do Comércio" contava que nunca o jardim tinha sido tão concorrido, com o Zé Povinho não só a ver o leão, mas também a atormentá-lo, atirando-lhe paus e pedras e provocando-o com guarda-chuvas e bengalas. A polícia teve de intervir para descanso do bicho.Passados três anos o leão deu em entristecer e deixou de caminhar. João Pedro Correia, veterinário, descobriu a causa da doença: por falta de exercício as unhas tinham crescido tanto que se cravaram na almofada das patas, provocando-lhe enormes dores. Na época ainda não se usavam os dardos anestesiantes, pelo que foi preciso agarrar o leão com uma corda para que um enfermeiro do hospital veterinário e o respectivo conservador conseguissem cortar-lhe as unhas. Isto só foi conseguido após muitas tentativas falhadas, conta o "Jornal da Noite" de 16 de Março de 1872.
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Editor de opinião
Escreve à quarta-feira

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