Todas as terras têm excêntricos. Lisboa tem tido muitos, mas nem todos com classe para ficarem na história da cidade. Domingos Ardisson teve-a.A sua origem é obscura, mas aparece-me um David Ardisson fundador da fábrica do Almonda e criador da marca Renova, em 1818. Este Domingos, nascido por 1810, deve ser da família, mas nunca se dedicou a negócios. Passou pela Guarda Nacional, foi graduado em alferes e depois em capitão, de que recebia uma pensão (por amizade de algum político), que não lhe chegava para a vida que levava, de frequentador do S. Carlos, onde se passeava com à-vontade pelos camarins das artistas, mas também dos melhores salões de Lisboa. Morreu já passado dos 70 e no leito de morte, no Hospital Militar da Estrela contava aos amigos que tinha medo que ninguém fosse ao seu enterro. Porquê? A resposta é simples: para levar a vida folgazã tinha por hábito perguntar aos amigos de posses: "Vais ao meu enterro?" Com a resposta positiva, Domingos avançava: "Olha que vais gastar pelo menos 1200 réis no aluguer do trem. Se me deres mil réis agora ficamos quites. Muitos, achando graça davam-lhe o dinheiro. Uma ocasião, Domingos foi assaltado no 3.o andar da Travessa de S. Mamede, onde vivia. Apanhou o ladrão, encostou-lhe uma pistola à cabeça e perguntou: "Quanto tens nos bolsos?" O ladrão respondeu a medo: "Tudo o que tenho de meu são 680 réis." "Serve", disse-lhe Domingos, acrescentando: "Volta quando quiseres!" No dia seguinte Domingos Ardisson dizia, muito alegre, que ia tirar licença no Governo Civil para continuar a explorar a sua nova indústria.
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Editor de opiniãoEscreve à quarta-feira
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