quarta-feira, 20 de outubro de 2010
A ladra da feira
Já aqui escrevi que a Feira da Ladra teria tido início junto ao Convento de S. Bento (actual Assembleia da República), quando ao mercado que os frades faziam com produtos das suas hortas se começaram a juntar populares que vendiam trastes velhos, sobretudo roupas e sapatos. Agora estou convencido que não terá sido bem assim. Essa feira terá dado origem, a pouco e pouco e centenas de anos mais tarde, isso sim, aos muitos antiquários da zona.
A origem da Feira da Ladra é muito mais antiga, como Augusto Vieira da Silva nos conta no III volume da sua obra “Dispersos”, editada em 1954.
Terá começado, talvez mesmo antes da fundação da nacionalidade, no tempo dos mouros, junto ao Castelo, perdurando ainda aí o nome de Largo do Chão da Feira. Depois ter-se-á mudado para o Rossio por volta de 1430, lá permanecendo até ao terramoto de 1755. Em 1809 mudou para a Praça da Alegria, e depois para o Campo de Santana, transferindo-se para o Campo de Santa Clara em 1881, onde ainda hoje tem lugar.
E de onde lhe vem o nome? Alguns autores dizem que ladra é corruptela popular de lada, margem (do rio), como então se dizia, o que não parece verosímil, porque a feira nunca funcionou ao pé do Tejo. Outros, autores, mais modernos afirmam que ladra é corruptela de lázaro, ou ladro, isto é, miserável, reforçando essa tese com o facto de ter havido em Paris uma feira a que chamavam Sainte Ladre, corruptela de Saint-Lazare. Augusto Vieira da Silva, mais terra-a-terra, afirma o nome deverá vir de uma vendedeira que lá tivesse uma banca e, que com razão ou sem ela, tivesse mesmo a alcunha de ladra.
António Mendes Nunes - Editor de Opinião - Publicado em 20 de Outubro de 2010 no Jornal i
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