Um estoiro monstruoso
POR DETRÁS da Calçada da Pampulha corre a Travessa dos Brunos, nome que tomou de um pequeno hospício de frades cartuxos de S. Bruno que ali existiu no século 17. Antes do grande aterro, até há pouco mais de 150 anos, as águas do Tejo chegavam ali. Havia um cais que servia as grandes taracenas ou tercenas (ou seja, armazéns), alguns deles de pólvora.
A 13 de Dezembro de 1576, uns miúdos viram entreaberta uma porta e foram ver o que lá estava dentro com uma tocha acesa. Por azar tinha chegado na véspera, vindo da Flandres, como conta Frei Bernardo da Cruz, autor da "Crónica de D. Sebastião", um grande carregamento de pólvora. Foram 45 toneladas que explodiram. A Pampulha foi pelos ares, o Paço de Santos (onde está actualmente a Embaixada de França e onde D. Sebastião vivia nessa altura) ficou sem telhado, indo os madeiramentos cair no Tejo e com algumas paredes derrubadas. Os estragos em edifícios chegaram à Calçada do Combro e os mortos nunca foram contabilizados.
Numa carta enviada por D. Sebastião ao Marquês de Távora (referida por Júlio de Castilho na "Ribeira de Lisboa"), o jovem monarca conta que a sua sorte foi estar fora, numa romagem à Senhora de Guadalupe, em Espanha, pois um pedregulho que derrubou uma das paredes da sala onde ele costumava estar aquela hora acertou à altura da sua cabeça. Não fora essa romaria espanhola e a história de Portugal seria outra. Sem o desastre de Alcácer Quibir teríamos perdido a independência na mesma, mas tudo teria saído muito mais barato!
por António Mendes Nunes, Publicado em 12 de Agosto de 2009 no jornal i
1 comentário:
O que escreves são textos e pequenas " coisas" desconhecidas, principalmente por quem nãoconhece bem Lisboa, como é o meu caso
Agora quero saber quanto ganho pela publicidade que faço por aqui ao Jornal I.
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