segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Do blogue irmão - ERO

Do blogue irmão - ERO - com a devida vénia e um grande abraço

O CONDE DE ABRANHOS

por Manuela Gama Vieira
Eça de Queirós foi um dos autores que li na minha juventude.Que Eça é intemporal, é indiscutível. Relê-lo, ainda hoje, me dá imenso gosto.
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Poderia recordar aqui qualquer outra obra mas, se a memória não me falha, “O Conde de Abranhos” foi um dos seus primeiros livros que li e revelou-se-me uma aventura, “abrindo-me os olhos” para o mundo da hipocrisia que grassa em certos meios, designadamente o da política.Com efeito, o Conde de Abranhos afigura-se como o arquétipo daquele outro nobre titulado que, em “Os Maias”, continuaria a sátira acutilante de Eça sobre os políticos seus contemporâneos - o Conde de Gouvarinho.
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Nascido numa família humilde, que à primeira oportunidade renega por já não se de adequar à sua elevada condição, Alipinho vai construindo um “cursus honorum” que não deixa de ser comum a todos os caciques da época com igual sorte.Entre muitas peripécias que se contam neste livro, recordo com especial prazer dois ou três episódios, aqui brevemente resumidos: Alípio Abranhos pouco versado em quase tudo o que é necessário a um servidor da res publica, afirma que se Moçambique fica na Costa Oriental de África ou na Costa Ocidental, isso pouco interessa, pois não diminui a sua dedicação em levar o progresso para tais paragens, com Portugal sempre orientado no sentido da civilização e da evangelização dos povos nativos que aí habitam sob domínio luso.
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E como Portugal não pudesse abandonar a dianteira das nações civilizadas da Europa, promove, como seu primeiro acto de governação como Ministro da Marinha, uma expedição ao Pólo Norte.
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Tudo isto a apimentar a imagem de um homem capcioso que consegue sempre perceber, por via de um instinto prático, mesquinho e arrivista, para onde sopram os ventos da Câmara dos Pares e, em última medida, de um Império que, para todos os efeitos, se deixou adormecer à sombra de uma visão pacóvia e pequena do Mundo, como se o mesmo se pudesse resumir ao pequeno círculo eleitoral de Freixo-de-Espada-à-Cinta, por onde Abranhos foi eleito sem nunca lá ter ido…em jeito de campanha eleitoral….
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Encontrar paralelismos entre o Portugal de hoje e o de oitocentos é, de facto, pura coincidência… ou a maior delícia?
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Manuela Gama Vieira

1 comentário:

Natércia Martins disse...

Sou tentada a dizer que se calhar não há coincidências .