sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Contrato de trabalho
Em Portugal, durante o Estado Novo, isto é, entre o final dos anos de 1920 e 1974 não se podia protestar, fazer greve e muitas coisas mais. A polícia política tratava rapidamente do assunto e como também não havia contratos de trabalho e direito a férias, quando o empregado chatiava e o patrão queria, era o "passa pela caixa, recebe o dia de hoje e adeus". Mas havia formas subtis de tentar dar a volta a isso e alguns galegos, a grande força de trabalho em Lisboa, sabiam-no.Vinham desde finais do século XVIII procurando em Portugal o que a Galiza lhes não dava e ocupavam-se no que os portugueses não queriam fazer. Os mais vivaços trabalhavam nos restaurantes, casas de pasto e tabernas, normalmente como cozinheiros, peritos em fazer petiscos, mormente as célebres iscas, segundo os autores da época, pitéu de comer e chorar por mais. O seu segredo, para além do tempero, era o corte do fígado, finissimo, e o facto de deixarem acumular no fundo da frigideira uma leve camada de carbono (na altura não existia revestimento de teflon), que não deixava pegar os fritos e dava um toque inimitável à lambeta. Iam de visita à terra de 4 em 4 ou de 5 em 5 anos, não tendo garantia de emprego quando regressassem. Antes de partir raspavam cuidadosamente as frigideiras, deixando-as a brilhar, para o substituto não sobressair. Os clientes suspiravam pelo ausente e o patrão também, incomodado com as queixas da freguesia. Quando voltava, o petisqueiro era imediatamente readmitido, graças ao truque da frigideira limpa, afinal o seu verdadeiro contrato de trabalho.
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Editor de opinião Escreve à quarta-feira
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