quarta-feira, 29 de julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
As botas do meu pai
A tarde corria devagar. Aliás, na aldeia, a tarde corre sempre devagar. Não há muito para fazer, além de cuidar dos animais. Há que regar as plantas: couves, milho e batatas. Mas isso faz-se logo pela manhã, quando o “ fresco “ se faz sentir. E que bom é o fresquinho da manhã, no meio do milho com a água a correr e molhar os pés. Eu gosto !
Há muitos anos que não faço este trabalho. E tenho saudades .....
Depois do almoço fica a “ sorna “. Com o calor a apertar e a cantiga das cegarregas convida à sesta dormida à sombra de uma árvore se as formigas cavalonas não se lembrarem de nos interromper o descanso com ferroadas dolorosas e chatas.
Resta a tarde, longa, até à noite.
Por entre um abrir e fechar de olhos sonolentos e preguiçosos há que pensar e talvez recordar .
O local mais fresco e aprazível fosse o “ Pivetas “. O Pivetas era o sapateiro. É isso mesmo ! Ali também se conversava e por entre cabedais, fivelas, sandálias e chinelas, encontravam-se umas figuras femininas com pouca roupa, impressas nuns postais comprados às escondidas e guardados nas prateleiras, bem lá no fundo.
Juntavam-se ali à espera que o Pivetas desse ordem de uma espreitadela às meninas dos postais em fato de banho, ou até uma ou outra mais despida.
Aquilo era uma festa ! O poder espreitar para um daqueles postais !
Depois vinham as histórias contadas quase sempre na primeira pessoas. Cada um dos “ visitantes” tinha uma história. Assim o sapateiro tinha sempre companhia. Ele gostava. Um dia a minha avó chamou a atenção do meu pai que as botas precisavam meias solas.
O meu pai pegou nelas e, claro, foram parar à oficina do Pivetas. Havia mais uns quantos sapateiros mas aquele tinha os postais mais bonitos, embora a colecção,fosse antiga e vista e revista.
Pegou nas botas com a promessa que na semana seguinte estariam consertadas.
A tarde convidava à conversa. Sentou-se num banquito perto da porta, onde já se encontravam mais dois ou três clientes.
O Pivetas com o avental de cabedal e a forma colocada nos joelhos martelava uns pregos numa chinela de mulher. Olhou para o meu pai e perguntou:
__ Ó senhor Nunes, como foi aquela história do canivete e o padre Zé ?
O meu pai encabulou porque embora a história tivesse uns laivos de cómica tinha-lhe valido uma valente tareia da minha avó, que não era mulher para brincadeiras.
Risota geral. Eles tinham ouvido a mesma história dezenas de vezes. Mais uma vez ...... nem parecia mal. Há um ou outro ponto que se acrescenta e tem sempre contornos diferentes.......
Apesar de tudo a história é gira .......
Parece que, quando o meu pai era pequeno o Padre Zé lhe pedia para ajudar à missa. Normalmente eram os garotos que mudavam o missal, levavam a bandeja para a comunhão, colocavam o vinho e água na galheta.
A isso chamava-se ajudar à missa
Eram sempre os garotos mais educados que ficavam encarregues desse trabalho.
E o pequeno António lá ia mesmo contrariado, mas não havia outro remédio ....
Um Domingo, à porta da Igreja e junto dos homens, tentando imitá-los pegou num canivete de cabo branco, de corno e afiava uma varinha de salgueiro Com calma, o padre chegou e olhou para as mãos do pequeno. Deitou - -lhe a a mão e levou para dentro da Igreja o objecto que considerava perigoso. Deu início ao acto sagrado. Lá para o meio da missa quando chegou a ocasião dizia o padre:
__ Muda o missal, António !
__ Não mudo. Dê-me o canivete.
__ Não posso. No fim da missa.
__ Não dá ? Não mudo o missal !
No público ninguém ouvia O diálogo entre os dois era sussurrado, em surdina.
__ Muda o missal !
__ Não mudo !
Foi, então, que o padre se viu obrigado a levantar a batina e tirar do bolso das calças, em plena missa, o canivete e passá-lo para as mãos do garoto. Pronto ! A história foi contada mais uma vez.
Fim do dia. E as botas ?
__ Senhor Nunes, estou com elas, dizia o Pivetas.
E a pergunta repetiu-se durante uma ou duas semanas.
__ As botas ?
__ Estou com elas, Senhor Nunes .....
Nas frase “ Estou com elas “ fazia supor que estava com elas no conserto. A meio, talvez ....
Até que um dia, o meu pai perguntou mais uma vez se as botas estavam prontas. A resposta repetiu-se.
__ Estou com elas ... Estou com elas ....
Olhando para os pés do velho sapateiro ....... e lá estavam elas ....... calçadas !!!!!!!
Pois ... Até falava verdade. “ Estou com elas” significava que estava com elas ...... calçadas .....
E assim, se ia governando, sem precisar de comprar botas ou sapatos. Ia calçando as dos fregueses que as levavam para consertar ....
Sempre ouvi dizer: “ Quem não tem cão .... caça com gato “ ........
Natércia Martins
Conhecem ?
sábado, 25 de julho de 2009
sexta-feira, 24 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Fotos Galvão
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Pino ?
Dia de bola
terça-feira, 21 de julho de 2009
Do blogue irmão - ERO
Outra pérola que o JJ do blogue irmão ERO me mandou via e-mail e tenho muito gosto em colar aqui. Obrigado JJ e um abração para ti.
O Principezinho, os Poetas Mortos e o Barry White
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Antigo Aluno Carlos Heras
|
domingo, 19 de julho de 2009
Do blogue irmão - ERO
Mais uma vez o blogue irmão ERO nos brinda via e-mail com este lindo escrito que aqui colo com muito gosto:
HOTEL CALIFORNIA
sexta-feira, 17 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Conheçam-se !
Panorâmica
Um aqueduto monumental sobre o Rossio
O nosso António Mendes Nunes , cada vez mais parecido com o pai, o nosso saudoso professor Ten. Mendes Nunes, fez o favor de mandar-me a crónica que publicou hoje no iOnline. É com muito gosto e orgulho que a colo aqui:
Um aqueduto monumental sobre o Rossio
O miradouro de S. Pedro de Alcântara foi o local escolhido por António Costa para anteontem apresentar a sua recandidatura à C. M. de Lisboa, talvez por ser uma das mais belas vistas de Lisboa, desde o alto de Campolide, à esquerda, até ao Tejo, à direita, com o castelo em frente. Há pouco mais de um século era frequentado por senhoras da média burguesia, que nas tardes de domingo iam ouvir a música das bandas e 50 anos antes, por volta de 1850, não era difícil encontrar, no seu passeio diário, a imperatriz D. Amélia de Beauharnais, viúva de D. Pedro IV, apaixonada do jardim. Nessa altura já todos haviam esquecido a má fama do local, muito tempo monturo de todos os lixos, vazadouro de animais mortos e local de atracção de suicidas, que desde o início do século 19 se atiravam lá para baixo, para a ravina da Rua das Taipas, à média de 3 e 4 por semana, procurando um remédio definitivo para uma vida de misérias. Mas aquele terraço, aquela enorme muralha que dá para as Taipas, não nasceu para ser jardim, mas sim para acolher um enorme depósito das Águas Livres, o mesmo que depois acabou por ser a Mãe d'Água das Amoreiras. O projecto inicial, de 1729, traçado por Manuel da Maia, que previa um aqueduto semelhante ao que atravessa o vale de Alcântara para passar sobre o Rossio e ir até à Graça, foi abandonado em 1740, quando Custódio Vieira foi nomeado director da obra. O grande aqueduto sobre a Baixa da cidade nunca foi construído. Já imaginou como ele teria mudado a imagem de Lisboa? António Mendes Nunes Jornalista
P.S. A crónica do António pode ser lida no iOnline aqui: http://www.ionline.pt/conteudo/13323-um-aqueduto-no-rossio