quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Festa de estalo
domingo, 27 de setembro de 2009
Aqui vai mais uma pequena história das minhas
As cegonhas
Que seria da humanidade sem um pouco de fantasia ?
Quando somos pequenos e lemos as velhinhas histórias de animais que falam e têm emoções ou ainda lendas de castelos encantados, a imaginação funciona como se de verdade se tratasse.
É o que se passa, por exemplo, com as manchas da lua. Será que é mesmo a cara de um homem com um molho de silvas às costas, porque as cortou num Domingo ?
Conheço um homem que ao Domingo não pega sequer numa forquilha. Tem medo de, quando morrer, ir parar direitinho à lua ou a um outro sitio assim, esquisito.
A minha imaginação, está ligada às cegonhas. Sempre foram transportadoras de bébés.
Poi é. As cegonhas transportam os bébés numa fralda pendurada no bico. Cruzam mares e florestas vindas não se sabe de onde e pousam suavemente numa qualquer chaminé que emerge de um qualquer telhado.
Um pássaro grande, com asas enormes, abertas, bico grande e aguçado.
De onde vem toda esta fantasia ?
É o que noutros tempos ensinavam às crianças pequenas. A imagem nunca se desvaneceu por completo. Quando era pequena os bébés vinham no bico da cegonha, de dentro de uma couve ou apareciam num cestinho debaixo da nespereira.
Atempadamente vim a saber que a realidade não é esta mas, dentro da minha cabeça a fantasia continua.
Hoje tenho três filhos e uma neta que evidentemente não apareceram em qualquer destas circunstâncias ......
É tão bom termos as nossas fantasias. Fantasias destas ....Mal de quem não tem a felicidade de sonhar A vida é tão dura. Somos azedos, temos invejas uns dos outros, somos indiferentes à beleza dos campos, dos animais, das flores. Romantismo a mais ? Não ! Apenas pondo a imaginação a funcionar e olhando a maravilha de tudo o que nos rodeia.
As crianças hoje sabem tudo. Ainda bem ! A televisão tem sido um bom veículo de ensinamentos. Já não há a inocência de outrora. Tudo era tabú. Tudo era ignorado. Até as coisas mais simples, insignificantes. Quando por nós próprios descobriamos, que desilusão ! .....
Não me lembro quando, ou como descobri a forma como os bébés são feitos ou como nascem. Vinham no bico da cegonha. Pronto !
Qualquer pergunta sobre assuntos “proíbidos” era respondida com um azedo: “ Não sei . Logo saberás. Não é para a tua idade”.
Como não havia outra informação que a da rua, era aí que se descobriam muitas respostas que hoje são respondidas de uma forma séria e até científica.
Quando pelas primeiras vezes atravessei os Campos do Mondego e comecei a ver cegonhas, a minha cabeça povoou-se de imagens da minha infância, longínqua.
Lembro-me de ver a minha mãe com uma enorme barriga. Ia ter um irmão ou uma irmã. Só isso ! Nunca ninguém me explicou porque é que a barriga crescia e como. Um dia, frio de Novembro, levaram-me para casa da minha avó, onde, na verdade, sempre dormi. Mas naquele dia fui antes de jantar, portanto, mais cedo.
A hora, a mim, tanto me fazia. Afinal era ali que dormia sempre .... As horas .... Essas .... Era-me indiferente. Devia eu ter uns cinco anitos. A minha mãe com a sua grande barriga, contorcia-se com dores. Explicação ? Nada! Nadinha!
Na minha inocência fui dormir e sonhar.... De manhã, quando me levantei a minha avó tinha saído mas as outras pessoas cheias de “ salamaleques” comigo iam e vinham tanto à cozinha como aos quartos de dormir sem grande justificação. A criada velha, sentou-me nos joelhos e declarou que a minha mãe tinha tido um bébé. Imediatamente a minha imaginação viu uma cegonha enorme com uma fralda pendurada no bico e entrar pela chaminé. Claro! Estava na hora !
__ Quero dar milho à cegonha!
__ Não pode ser. Já foi embora !
__ Mas ela tem que esperar por mim. Eu queria dar milho à cegonha que trouxe o bébé.
Corri estrada acima até a casa onde morava a minha mãe. Era perto. Lá estava ela, na cama, com o bébé que dormia ao lado. Corri à varanda à procura da cegonha. Nada ! E o maior dos mistérios: a barriga da minha mãe tinha desaparecido. Não relacionei os factos. Eu queria dar milho à cegonha ! Desatei numa gritaria que o meu pai deve ter acalmado com um berro. O “ cachopo” era feio... Muito vermelho e dormia. Dormia ....
O tempo foi passando na sua cadência natural. Os anos passaram com tempo e a mesma cadência.
Hoje, já velhota, passo pelas “ minhas” cegonhas e observo-as. Deambulam por cima dos campos cultivados de milho e arroz. Observo os seus ninhos lá no alto, no cimo das árvores ou nos postes. Nunca me canso de olhar. Uma ou outra passa mais perto da minha cabeça. E o pensamento surge: Onde será que vai levar o bébé que traz no bico pendurado numa fralda ?
Natércia Martins
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Memória do Conde de Alface
por António Mendes Nunes, Publicado em 23 de Setembro de 2009
O conde de Alface foi umas primeiras vítimas da entrada de Portugal na União Europeia. Nunca soube o nome de baptismo deste cidadão, e julgo que a maior parte das pessoas que com ele lidava também nunca o quis saber. Vendia jornais a uma esquina do Príncipe Real, cumpria o ofício a contento e tinha freguesia selecta. As visitas regulares aos copinhos de tinto do quiosque do sr. Oliveira, ali próximo, acabavam por fazer da suas e, quando atingiam o limite, o vendedor de jornais metia uma folha de alface no bolso superior do casaco em jeito de lencinho, endireitava a espinha, dava-se ares e assim nascia o Conde de Alface.
Quando a legislação europeísta (ou impingida pelas autoridades camarárias como tal), aí por finais dos idos de 1980, lhe proibiu a venda ambulante, foi obrigado a ter uma barraquinha para o efeito.
Metido o pedido à câmara, a decisão nunca mais vinha e aí temos o nosso homem a pedir a ajuda do dr. António Alçada Baptista, seu cliente diário.
Transcrevemos o bilhete que o escritor enviou ao seu amigo e conterrâneo Carlos Robalo, então vereador da Câmara Municipal e que também foi deputado do CDS e ocupou por duas vezes cargos de secretário de Estado: "Meu Caro dr. Carlos Robalo,
O meu amigo Conde de Alface, no intervalo dos seus copos, vende-me jornais há mais de 20 anos. Ele requereu uma barraca, conforme fotocópia junta, e ainda não lhe deram a licença. Tenha paciência, veja se me despacha a autorização, se não o meu prestígio entre os bêbedos do Príncipe Real fica seriamente abalado."
António Mendes Nunes, Jornalista Publicado em 23 de Setembro de 2009 no jornal i
sábado, 19 de setembro de 2009
Olha que dois !!
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Na semana passada contámos em duas pinceladas a história do Convento de S. Bento, hoje Assembleia da República, prometendo que voltaríamos ao tema para contar mais umas histórias e mostrar como os frades beneditinos deixaram a sua herança até aos nossos dias. Os beneditinos, cuja primeira casa em Lisboa havia sido no pequeno convento da Estrela (hoje Hospital Militar Principal), quando mudaram para as novas e mais vastas instalações de S. Bento da Saúde acharam-se com largos terrenos de cultivo e tomaram o hábito de fazer a venda dos seus produtos no exterior da cerca. Criou-se uma feira e rapidamente aí se juntaram vendedores ambulantes. José Augusto-França, num livro editado em 2000 pela Assembleia da República, diz-nos: "...resquícios do mercado dos frades, ao pé de um chafariz. Um mercado de ferro-velho, adelos, passarinheiros, roupavelheiros e papel velho, botequins e suspeitos 'cafés de lepes'..."Aliás, muito próximo (entre a Rua de S. Marçal e a Rua da Palmeira) existe a Rua das Adelas, significando esse termo "mulher que compra e vende objectos usados, especialmente roupas". Sabe-se que a partir do Terramoto de 1755 essa zona da cidade começou a ser urbanizada, existindo aí muitas lojas de velharias, nomeadamente adelos.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Acreditam?
domingo, 13 de setembro de 2009
Postal Ilustrado
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
09/09/09
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Buarcos
domingo, 6 de setembro de 2009
Crónicas do AntónioMN
Domingo, 6 de Setembro de 2009
Esta é a história da igreja mais azarada de Lisboa, a de S. Mamede, no largo e ao cimo da rua do mesmo nome, quase em frente da Imprensa Nacional e não muito longe do Palácio Palmela.As obras parecem ter-se iniciado por volta de 1780 mas em 1796, quando já estava levantada parte da capela-mor, um raio espatifou quase tudo. A paróquia tinha rendas e foros mas ninguém os pagava. O dinheiro faltava e a comissão fabriqueira tomou uma decisão de força: vendeu o cemitério que existia nas traseiras da igreja. Em 1834, com a cumplicidade do sacristão, a igreja foi assaltada e todos os bens foram roubados e três anos depois um temporal enorme derrubou a torre sineira. Em 1850, 70 anos depois, a igreja resumia-se a uma pequena edificação e a uma espécie de barracão anexo. Nessa altura já o pároco António Teixeira Salgueiro suspenso das suas funções, como vingança, tinha subtraído todos os livros e registos.A construção andava tão devagarinho que a obra nova não conseguia esconder a degradação do que já estava feito. Em 1865 a parte mais antiga já ameaçava ruína e uma parte da sacristia havia sido convertida em galinheiro! Na década de 1880 a câmara fartou-se de tanta incompetência e deitou mãos à obra, mas sem sucesso, porque em 1903 a igreja ameaçava outra vez ruína por ter sido atacada por uma praga de formiga branca. Em Maio de 1921 foi o fim do sofrimento: um grande incêndio destruiu por completo o edifício. A actual igreja foi inaugurada em 1924 com projecto do arquitecto Raul Martins. Mas não se pode dizer que seja grande coisa.
António Mendes Nunes - Jornalista .
Publicado em 2 de Setembro de 2009 no jornal i
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Baú de Sonhos
Tenho no meu sótão um baú cheio de caixas coloridas.
Cada caixa contém,conforme a cor, desilusões, alegrias, lágrimas, ódios, amores desamores,sentimentos e cheiros.
Não abro todas as caixas ao mesmo tempo.
A caixa dos cheiros, contém os cheiros das manhãs no campo. O cheiro da terra molhada depois de um dia de chuva. O cheiro das espigas de milho, na eira, ao anoitecer, O cheiro das maçãs e do vinho a ferver no lagar O cheiro das filhós a fritar em azeite, na noite de Natal. O cheiro da canja a ferver na panela de ferro em cima do fogão de lenha. O cheiro do jasmim e da celinda no jardim. Cheiros intensos, estes.
A caixa das chatices, dos arrufos, ódios, discussões, permanece bem no fundo . E nunca a abro. Tem uma fita bem amarrada, para maior segurança da tampa. Não vá ela saltar.
A caixa da saudade tem lá dentro a memória dos meus pais e alguns familiares próximos, principalmente a saudade da minha avó.
As histórias contadas em redor da braseira, apoiada num estrado de madeira por baixo da camilha.
Histórias que nunca se apagam da memória. Noites longas de Inverno, frias e brancas transformando o orvalho num manto de gotas de gelo.
Enquanto os olhos se iam fechando vencidos pelo sono, as nossas mentes transportavam para o sonho, o que os ouvidos ouviam.
A caixa azul contém recortes e recordações.
As escadas de cantaria viradas para a estrada e eu pequena, sentada no último degrau tendo por companhia o cão preto e branco, cujo nome se perdeu nos meandros da minha memória.
Ali sentado, esperava pacientemente a meu lado, que o moleiro passasse com meia dúzia de burros carregados de farinha ou grão, pronto para o moinho lá ao fundo da aldeia,.
Havia o padre António, já muito velho que aos Domingos de manhã, passava numa charrete puxada por uma mula tão velha como o dono.
Melhor que tudo era a passagem de um cavaleiro e um cavalo branco que por vezes por ali andava. Era lindo o cavalo .... E eu mais o cão sentados no último degrau das escadas. E aquela do assalto ?
Pois bem, o quarto do criado, situava-se junto à casa do forno e por cima do curral da mula. Tocava acordeão nos bailes na taberna do Xico Sapateiro. Das teclas saía um som mágico que ouvíamos com agrado, das “ modas” em voga no tempo. Naquela noite, como não era dia de baile, tocava uma “ moda” no quarto. Na cozinha ouviram-se uns barulhos esquisitos, seguidos de passos. Uma porta bateu. Todos nós ficámos gelados de medo. Foi, então, que a minha avó, agarrando um pouco de coragem, chegou à janela e chamou o rapaz que tocava o acordeão, lá fora, no quarto. O cão ladrou e os passos calaram-se.
Num repente,a porta abriu-se entrando de rompante o criado, com um gesto rápido, passou na cozinha, agarrou um chouriço que estava em cima da mesa e enfrentou o intruso, como se de uma arma se tratasse.
Se era um ladrão, nunca se soube, ao certo, mas a fama do homem que enfrentou um ladrão com um chouriço, correu pela aldeia.
Há, ainda, uma caixa em forma de coração. Lá dentro, bem arrumadinhos, os meus amores. Não falo deles. São meus e não partilho com ninguém.
Mas há uma outra caixa verde. Esta caixa é a dos meus sonhos. Não a abro nunca. Tenho medo que se escapem e se espalhem por aí. É que apesar da idade, os sonhos, não se acabam.
Natércia Martins
Mais uma historieta das minhas