sábado, 9 de janeiro de 2010

Como os Judeus portugueses preservaram a sua identidade genética?

Como os Judeus portugueses preservaram a sua identidade genética? Por Cnaan Liphshiz
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Uma análise genética dos Criptojudeus Portugueses do Norte do país rendeu recentemente uma descoberta misteriosa: Expôs uma comunidade Judaica isolada que preservou de algum modo sua identidade genética durante séculos ao evitar a mistura de sangue que ocorre geralmente em tais situações. Agora os cientistas estão a tentar perceber como estes Judeus conseguiram ultrapassar uma circunstância que preocupa as comunidades Judaicas pequenas, as mais fechadas do mundo. O novo estudo por investigadores das universidades do Porto e de Coimbra mostrou que os Judeus da área de Bragança estão geneticamente mais próximos dos Judeus do Médio Oriente do que dos outros portugueses circunvizinhos - mesmo após viverem ali durante mais de 500 anos. Isto emergiu de uma análise do cromossoma Y, que é passado exclusivamente de pai para filho com recombinação negligente.
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Esta aproximação genética foi também foi observada nos Judeus Belmonte, uma cidade pequena situada a uns 200 quilómetros ao sul de Bragança. Entretanto, a análise genética dos Judeus de Belmonte mostrou uma quebra dramática na diversidade genética, indicativa de mistura de sangue. Isto é normal em comunidades isoladas, simplesmente porque menos material genético é introduzido em cada geração. “Todos os pares de pequenos genes tendem a perder a diversidade, mas as comunidades da área de Bragança conseguiram manter uma diversidade muito elevada, com uma incorporação de genes não-Judaicos relativamente pequena,” disse o professor António Amorim, um medico genesticista da universidade do Porto que executou a pesquisa. A pesquisa recentemente publicada pela equipa de cientistas do doutor Amorim examinou a linhagem paternal de 57 homens de origem não relacionada aos Judeus de origem Judaica confirmada radicados ao redor de Bragança. A comunidade de Bragança é estimada em cerca de 100 pessoas, no máximo. Foi encontrada um diversidade elevada de linhagem, aos níveis de “haplotype” e “haplogroup” (98.74 e 82.83%, respectivamente), demonstrando a ausência de um acentuado desvio genético, dita a pesquisa. É a primeira vez que a composição genética dos Judeus Portugueses do Norte é analisada. “Os resultados surpreenderam-me,” disse Amorim ao Haaretz referindo-se ao estudo da sua equipa, publicado há algumas semanas no no jornal americano de Antropologia Física. “A minha surpresa é dupla,” acrescentou, referindo-se ao baixo nível de contaminação por mistura de sangue e à preservação de genes Judaicos. “Estes resultados podem somente ser explicados assumindo que a eficácia do pequeno grupo da população é muito maior do que parece à primeira vista,” concluiu Amorim, “e/ou que existe uma estratégia reprodutiva que minimiza a perda da linhagem masculina, mas que não evita totalmente a contaminação masculina por não-Judeus.”
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A equipa de investigadores disse que “uma investigação mais profunda e mais detalhada é necessária para esclarecer como estas comunidades evitaram a mistura previsível durante cerca de quatro séculos do repressão religiosa.” Estamos ainda à espera das análises das linhagens maternais”, acrescentou Amorim.
*** Os Judeus estão radicados nas cidades inóspitas e isoladas em torno de Bragança desde 1187, mas a maioria radicou-se ali após o Decreto da Expulsão dos Judeus de Espanha de 1492 ou durante a Inquisição espanhola. Os Judeus foram autorizados a ficar Portugal, sob a condição de converterem-se ao Cristianismo, mas comunidades inteiras continuaram a praticar o Judaísmo em segredo, tornando-se Criptojudeus. Os indivíduos alvos do estudo pertencem a estas famílias. Portugal actualmente está a ver o regresso ao Judaísmo de milhares de portugueses que acreditam serem descendentes de Criptojudeus. Estes portugueses contam com a assistência de organização Shavei Israel, baseada em Jerusalém, chefiada pelo americano ali residente Michael Freund. “Este estudo demonstra a extensão a que os Judeus Portugueses foram submetidos pela força para se converterem ao Cristianismo há mais de 5 séculos e a sua perseverança interior para preservar o Judaísmo através de gerações, “ disse Michael Freund. “Fizeram esforços heróicos para reter a sua identidade Judaica em segredo, e muitos deles apenas casaram entre si, como indica o estudo,” finalizou.
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Artigo original em língua inglesa pode ser lido aqui
- http://www.haaretz.com/hasen/spages/1141335.html

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