Memória do Conde de Alface
por António Mendes Nunes, Publicado em 23 de Setembro de 2009
O conde de Alface foi umas primeiras vítimas da entrada de Portugal na União Europeia. Nunca soube o nome de baptismo deste cidadão, e julgo que a maior parte das pessoas que com ele lidava também nunca o quis saber. Vendia jornais a uma esquina do Príncipe Real, cumpria o ofício a contento e tinha freguesia selecta. As visitas regulares aos copinhos de tinto do quiosque do sr. Oliveira, ali próximo, acabavam por fazer da suas e, quando atingiam o limite, o vendedor de jornais metia uma folha de alface no bolso superior do casaco em jeito de lencinho, endireitava a espinha, dava-se ares e assim nascia o Conde de Alface.
Quando a legislação europeísta (ou impingida pelas autoridades camarárias como tal), aí por finais dos idos de 1980, lhe proibiu a venda ambulante, foi obrigado a ter uma barraquinha para o efeito.
Metido o pedido à câmara, a decisão nunca mais vinha e aí temos o nosso homem a pedir a ajuda do dr. António Alçada Baptista, seu cliente diário.
Transcrevemos o bilhete que o escritor enviou ao seu amigo e conterrâneo Carlos Robalo, então vereador da Câmara Municipal e que também foi deputado do CDS e ocupou por duas vezes cargos de secretário de Estado: "Meu Caro dr. Carlos Robalo,
O meu amigo Conde de Alface, no intervalo dos seus copos, vende-me jornais há mais de 20 anos. Ele requereu uma barraca, conforme fotocópia junta, e ainda não lhe deram a licença. Tenha paciência, veja se me despacha a autorização, se não o meu prestígio entre os bêbedos do Príncipe Real fica seriamente abalado."
António Mendes Nunes, Jornalista Publicado em 23 de Setembro de 2009 no jornal i
2 comentários:
Meu Caro António MN,
As tuas crónicas no i das 4ªs feiras são uma delícia que não me canso de ler. Parabéns.
Sérgio (IVS nº 192)
Também gosto das crónicas.
Quero saber quanto é que eu ganho com a publicidade que faço ao "teu" jornal I, principalmente às Quartas Feiras.
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